Os Pequenos Vestígios

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“Os Pequenos Vestígios” se esforça para humanizar investigador e investigado, mas acaba entregando um filme sem consistência.

2021 é o ano em que O Silêncio dos Inocentes completa três décadas. O filme dirigido por Jonathan Demme – baseado no livro de Thomas Harris – é um marco nas narrativas que envolvem assassinos em série e também traz uma interessante complexidade de representação das pessoas que trabalham na investigação desses casos. A figura da agente Starling (Jodie Foster) é um importante exemplo para entender como o estadunidense FBI passou a implementar departamentos de ciências comportamentais. Ainda, a personagem carrega uma dimensão pessoal para dentro da investigação que acaba suscitando situações interessantes de confronto entre ela e o investigado. É com essa premissa, de colocar a pessoa que investiga em um primeiro plano, que Os Pequenos Vestígios, de John Lee Hancock, traz um elenco de peso para um filme confuso que se enrola nos próprios fios narrativos.

Um delegado adjunto de um pequeno condado é designado para ir até Los Angeles buscar provas de um caso. Chegando na cidade sabemos que Joe “Deke” Deacon (Denzel Washington) não é apenas mais um policial do interior, mas sim um investigador de respeito, aposentado por ter se envolvido pessoalmente em um caso do passado. Nesse atual momento um assassino em série está agindo de formas parecidas com aquele que afastou o investigador e, claro, ele vai querer se envolver. A coisa começa a descambar com o comportamento passivo-agressivo de Jim Baxter (Rami Malek), policial designado a cuidar do caso, em relação a Joe Deacon. Baxter fica impressionado com a forma de Deacon trabalhar e começa a levá-lo para as cenas do crime, o que desencadeia uma série de traumas ao homem. Os Pequenos Vestígios fica ainda mais confuso com a entrada do personagem Albert Sparma (Jared Leto) como principal suspeito, um homem visivelmente perturbado e que sente prazer em atravessar o caminho dos policiais.

Denzel Washington, Jared Leto e Rami Malek formam um trio de protagonistas sem nenhum tipo de unidade ou mesmo química em cena, parece que nada funciona quando eles estão por perto. Jared Leto e Rami Malek são os mais prejudicados na lógica de Os Pequenos Vestígios; o primeiro entregando uma espécie de arremedo de personagens anteriores como o Coringa, da DC, e Malek como um investigador bonachão, tentando sempre soar cínico e irredutível mas revelando um afetamento que não combina com o personagem. O veterano Denzel fica totalmente perdido nessa narrativa, como se ele mesmo não soubesse para onde o filme está indo. Fica claro que é um problema de direção de atores, afinal o filme se propõe a construir uma história que depende do estudo de personagens. Cada um dos protagonistas empresta uma narrativa que serve como pista para a investigação que, infelizmente, quando chega a sua resolução não causa nenhum impacto, mesmo que fique claro que é essa a intenção. Sem contar a subutlização de atrizes como Natalie Morales (a outra investigadora) e outras que só aparecem mortas em tela.

Os Pequenos Vestígios comprova que mesmo um filme com uma boa premissa e um elenco premiado pode não chegar a lugar nenhum. Há um sentimento de fracasso ao pensar que um longa que pretende tratar da habilidade de investigadores se perde justamente nas pistas que deveriam estar pela narrativa, pois o filme é cansativo e dá voltas demais, tornando o desfecho enrolado e sem empatia, apesar de todo o esforço.

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