Parasita

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"Parasita" é um filme cheio de alegorias e forte concorrente ao Oscar

A luta de classes é um interesse do diretor coreano Bong Joon Ho, mais nitída nas suas incursões cinematográficas mais recentes, Expresso do Amanhã e Okja. Ele volta a retratar essa luta, aparentemente impossível de transcender face aos sistemas econômicos vigentes, em Parasita, um longa cheio de alegorias que estreou em Cannes e agora é um forte concorrente ao Oscar.

O filme começa como uma espécie de comédia, e de forma bastante surpreendente, muda para algo muito mais radical. Em Parasita, toda a família de Ki-Taek está desempregada, vivendo num porão sujo e apertado. Uma obra do acaso faz com que o filho adolescente da família comece a dar aulas de inglês à filha mais velha de uma família rica. Fascinados com a vida luxuosa destas pessoas, pai, mãe, filho e filha bolam um plano para se infiltrarem na família burguesa, um a um. No entanto, os segredos e mentiras necessários à ascensão social custarão caro a todos.

Parasita diz respeito a duas famílias que vivem na mesma cidade, mas em mundos totalmente diferentes. Os Kims vivem quase em uma miséria, lutando para ter uma existência básica. Eles são inteligentes e engenhosos. Seus alvos são os Parks, casualmente ricos e educadamente gentis.

Bong e o co-roteirista Han Jin Won (assistente do diretor em Okja) tomam o cuidado de não deixar suas caricaturas muito visíveis. Embora coisas malucas aconteçam em Parasita – este é um filme de Bong, afinal – elas sempre são crucialmente baseadas em algo humano e real, tornando a sátira ainda mais assustadora.

Mas nem tudo é sátira. Na primeira parte do filme, somos apresentados a um plano muito bem montado (como nos filmes em que torcemos para os vigaristas ganharem). Bong aponta várias injustiças absurdas enfrentadas pela família de Ki-Taek, enquanto nos lembra que eles são capazes de mentir e trapacear – e atrapalhar a vida de outras pessoas no processo – para conseguir o que precisam. Há uma justiça perversa aqui, especialmente em contraste com os Parks e seus privilégios meritocráticos. Mas o truque do filme é como ele lentamente se concentra no que tudo isso significa e o quão sério é o que está em jogo. Que tipo de fome requer tais truques malucos?

Uma “fome” profunda e avassaladora, como Parasita nos mostra. Embora ainda animado pela vivacidade e criatividade de Bong, a segunda metade de Parasita se torna mais sombria e até triste, por assim dizer, levando a uma conclusão surreal e devastadora.

A principal metáfora de Bong, sobre as pessoas ricas e sua meritocracia exacerbada, é ilustrada com pura poesia. Você termina Parasita emocionado com sua visão singular sobre o mundo, mas também me sentindo destruído, como se um rolo compressor tivesse passado por cima de você durante a sessão.

Apesar de ser tão intimista, o filme luta com algo muito maior do que ele mesmo (assim como Aquarius o fez), dando voz àqueles que ficaram para trás durante o boom econômico da Coreia do Sul – e de muitos outros países (oi Brasil, tudo bem?). Há uma raiva que paira pelo filme, mas o que é mais eficaz é a tristeza que ele evoca – e a breve esperança que emana dele ainda está lá, de alguma forma.

Melhor ser vago sobre os detalhes da trama, para não estragar as surpresas de Parasita. É melhor que você descubra as nuances engenhosas do longa por conta própria. É um filme totalmente enriquecedor, com um elenco excelente e uma fotografia e trilha sonora de qualidade indiscutível.

O filme fala sobre nossos tempos de forma tão rara, trazendo à tona toda a injustiça esmagadora do mundo. De sua maneira agridoce (ênfase no amargo), o poderoso filme de Bong faz pensar profundamente sobre o que ele quer e precisa.

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