Parthenope: Os Amores de Nápoles

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Em “Parthenope”, o diretor italiano Paolo Sorrentino oferece o de sempre: um suposto corpo feminino mitológico visto pelo olhar masculino

Nomear uma mulher quando ela nasce. Chamá-la pelo nome de uma sereia, justamente uma criatura que encanta pelo som da sua voz e leva as presas para a morte. Porém, em Parthenope: Os Amores de Nápoles, longa do italiano Paolo Sorrentino, a jovem sereia até é bela como deve ser – obviamente magra, jovem, belos dentes e olhos claros –, mas encanta suas “vítimas” com o seu corpo. Nenhuma novidade quando se trata da escopofilia masculina. Mas, vá lá, é adicionado que Parthenope é uma criatura inteligentíssima, uma moça que lê antropologia e literatura de homens bêbados estadunidenses enquanto desfila com seus biquínis pelas praias da antiga e complexa Nápoles.

De início, em tom de narrativa mitológica, o filme propõe mostrar o crescimento de Parthenope (Celeste Dalla Porta). Porém, o que é apresentado é o nascimento dela, pulando para o cerne da sua vida: dos 18 até chegar perto dos 40 anos. O filme tenta deslizar pelas situações que fazem a vida dessa linda mulher ter algum sentido, como o amor dos homens pelo seu corpo e a busca dela pelo conhecimento e aprovação acadêmica masculina. Apesar de o diretor insistir que Parthenope não carrega o significado da criatura feminina repelida (a sereia homicida), o filme se resume em ser sobre como a fabulação é algo estritamente masculina. A história que Sorrentino oferece é da jovem protagonista movida pelos desejos dos homens, que a assediam desde muito cedo. Parthenope sabe que move o mundo ao seu redor com a sua beleza e tenta equilibrar o seu caminho se entregando às experiências que façam sentido em uma busca que ela ainda não sabe o destino. Porém, para quem assiste, a protagonista transita com sua sedução melancólica que só pode resultar na infelicidade.

No derradeiro granfinale de Parthenope, a musa protagonista do filme – ainda mais no sentido que soprou a história para o Sorrentino, esse artista – está solitária e velha pois abdicou dos amores e da possibilidade de ter filhos. Aposentada de uma carreira de professora universitária, ela volta para Nápoles. Não há mais histórias, algumas alunas perguntam para que fale mais de sua privada e ela segue em negativa até o final. Para a gente que assiste, fica um vazio de sala ampla, com paredes pintadas pela habilidade cinematográfica da equipe de Sorrentino – sempre com um olhar amoroso para sua Itália milenar – e personagens que se equilibram em ser outras grandes de outrora, como as de Fellini ou Rossellini. O diretor diz, em entrevista, que as mulheres são um enigma (como desculpa para criar Parthenope), mas não tem jeito, para falar com essa esfinge ele precisa dialogar mais com diretoras, como a contemporânea Alice Rohrwacher, e ler mais as escritoras italianas. A resposta está ali mesmo, basta querer sair da mesmice.

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