Pier Paolo Pasolini é considerado um dos grandes cineastas da história, além de ter sido um prolífico escritor e poeta. Saló ou os 120 Dias em Sodoma (1976), por exemplo, foi o seu último filme e é de longe uma das obras mais lembradas em listas de filmes obrigatórios. Na semana que se completa os 40 anos da morte do diretor italiano, os cinemas recebem Pasolini, filme de Abel Ferrara – grande entusiasta de Pier Paolo – uma espécie de rememoração das últimas horas na vida de Pasolini até o seu fim trágico.
Pasolini traz Willem Dafoe no papel do diretor, o que pode causar um certo desconforto com um sotaque italiano estranho porém com uma semelhança física interessante. Para Ferrara mostrar os últimos momentos de Pasolini ele constrói uma trama caleidoscópica para definir toda uma carreira, costumes e trejeitos para que o espectador tenha uma noção ampla de quem ele foi e o que pensava. Um tanto difícil fazer isso em apenas 80 minutos mas Ferrara se esforça com sua, já costumeira, forma de construir cenas poéticas que se completam no todo.
A figura controversa de Pasolini é mostrada em vários momentos, logo no ínicio cenas de Saló são mostradas em uma TV enquanto o diretor concede entrevista. Sempre questionado sobre suas inclinações sadomasoquistas ou marxistas, ele dava respostas firmes, irônicas e certeiras. Em um dado momento ele diz que não é e nem gostaria de ser um moralista e de fato, não foi. A morte do diretor é até hoje encoberta por uma sombra difícil de encontrar luz no seu entorno. É possível ver em Pasolini uma versão mesclada do que se acredita ter acontecido, mas creio que mesmo para o espectador menos conhecido dos fatos, seja difícil acreditar que foi apenas o mostrado em tela ou relatado nos jornais. Assim como sua vida, a morte de Pier Paolo reverbera através de suas declarações inflamadas e sua postura nada em cima de muros.
Em Pasolini, longa que tenta abarcar toda a vida de um homem genial em apenas um dia, parece que tudo é efêmero demais. Há uma falta de profundidade apesar das cenas carregadas de discursos e semelhanças facilmente reconhecidas na obra do italiano. A montagem entre a rotina de um dia simples e cenas que mimetizam uma narrativa – Pasolini se dedicava em escrever seu romance Petróleo – surreal, porém profundamente crítica e visionária em relação à política italiana, é por vezes bela mas também confusa e não faz jus ao imenso legado deixado pelo diretor.
Claro que há vários pontos positivos em Pasolini, além das cenas estáticas que mostram o esplendor de outrora de Roma, suas construções e estátuas milenares, há a escolha de um elenco italiano incluindo o ator Ninetto Davoli, amigo próximo do diretor. Há ainda Maria de Medeiros como Laura Betti e Riccardo Scamarcio como Ninetto jovem. A trilha sonora que oscila entre música clássica, italiana e músicas americanas da época é fundamental para ambientar a trama construída.
Vale lembrar que em nenhum momento Abel Ferrara prometeu entregar uma cinebiografia de Pier Paolo Pasolini. Quando disse que “Sei quem matou Pasolini”, Ferrara entregou o longa que talvez não preencha muitas lacunas ao espectador menos iniciado à obra do italiano. Mas por que um filme de 80 minutos deveria fazer isso se temos uma obra de quase 70 trabalhos entre cinema, poesia, teatro e ensaios para se aprofundar na mente desse homem, que mesmo depois de 40 anos da sua morte, ainda causa furor e questionamentos? Pasolini deve ser encarado como uma homenagem e que possa instigar o espectador a assistir ao trabalho de Pier Paolo Pasolini, esse protagonista controverso e interessante.
Pasolini
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