Passageiro Acidental

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Anna Kendrick e Toni Collette fazem pensar sobre moralidade, mesmo com "Passageiro Acidental" se passando no espaço

O que um bom diretor de cinema faz? É uma pergunta boba, já que bons diretores fazem mil coisas e cineastas podem ser de diversos tipos. Mas em uma época onde os blockbusters não se arriscam além de continuações, sequências e adaptações, é importante lembrar que um bom diretor pode conduzir uma história original passo a passo, momento a momento, sempre criando uma imersão honesta sobre a dinâmica humana.

Joe Penna é esse tipo de diretor. Seu cinema é natural e até simples, mas efetivo. Passageiro Acidental é apenas seu segundo longa-metragem e, como o primeiro, Arctic, estrelado por Mads Mikkelsen (Druk – Mais uma Rodada) como um explorador preso no Ártico, é um conto de sobrevivência em circunstâncias extremas. Esta é uma aventura espacial, o que nos dias de hoje faz pensar que deve ser um filme-espetáculo. Mas Penna assume uma missão a Marte e a desenvolve em um nível emocional íntimo e, na medida do possível, realista. Sempre sentimos que os personagens são pessoas comuns.

No filme, um estranho (Shamier Anderson, de Cara Gente Branca) a bordo acidentalmente causa um dano sério aos sistemas de suporte à vida da nave numa missão com destino a Marte. Com recursos escassos, a médica pesquisadora (Anna Kendrick, de A Escolha Perfeita) é a única voz contra a lógica clínica da comandante (Toni Collette, de Estou Pensando em Acabar com Tudo) e do biólogo da nave (Daniel Dae Kim, de Lost).

O fantasma de 2001 – Uma Odisseia no Espaço paira sobre quase todos os filmes de viagem espacial, desde sua estreia – está presente no ritmo dos filmes, nas personalidades frequentemente silenciosas dos membros da tripulação, na sequência inevitável na qual os personagens precisar reparar algo fora da nave e, claro, no design de produção.

Passageiro Acidental não faz nenhuma mudança muito radical na cartilha, cria uma nave espacial convincente nunca vista antes, pequena o suficiente para parecer uma série de cápsulas, com portas e paredes modulares apertadas e tetos que têm suas entranhas expostas.

Penna, que é brasileiro e começou como produtor de vídeos no YouTube (o que ele ainda faz), evita as armadilhas de fazer um filme fantástico de ficção científica que seja muito fora da realidade, como Ad Astra: Rumo às Estrelas ou Passageiros. Passageiro Acidental é um filme modesto que permanece preso a questões de “carne e osso”.

São essas as questões que chamam atenção em Passageiro Acidental e, de certa forma, fazem lembrar alguns aspectos maravilhosos de Gravidade, o filme espacial mais sensacional de nossa era. Mas Joe Penna sabe como fazer um filme que o prende e ainda parece bastante original no processo. Sua voz como cineasta se manifesta, mesmo em um gênero repleto de empreitadas bastante comerciais como este. Quando ele encontrar o projeto certo, sua voz será ouvida ainda mais amplamente por cinéfilos em todo o mundo (alô estúdios, chamem o cara para mais projetos incríveis).

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