Perdidos na Noite

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“Perdidos na Noite” foi o único filme para adultos a ganhar o Oscar de Melhor Filme, e é menos chocante a cada ano que passa

Perdidos na Noite é essencialmente um filme sobre dois personagens, e se concentra no relacionamento entre eles. O “cowboy” Joe Buck (Jon Voight), nascido no Texas, e o vigarista Rico “Ratso” Rizzo (Dustin Hoffman). Como todos os filmes sobre amigos, ele depende muito das atuações e da química dos atores. Mas ele vai a um território mais sombrio do que costumamos ver nesse tipo de filme.

Embora Perdidos na Noite contenha momentos de leviandade, fica cada vez mais sombrio ao longo da projeção. O que começa como uma convivência por conveniência se transforma em um relacionamento de co-dependência, que mesmo a pessoa mais liberal considera prejudicial à saúde. Joe é um peixe fora d’água em Nova York e Ratso sabe como explorá-la. Ele faz isso incansavelmente, mesmo quando sua debilidade exige que ele confie no homem mais jovem e saudável. Somente em uma sequência de fantasia, que retrata Joe e Rizzo vivendo uma boa vida em Miami, constatamos que o carinho entre eles é mútuo.

O diretor John Schlesinger decide começar o filme com uma montagem leve e nostálgica. Ao som de uma música country, o filme retrata os últimos momentos de Joe no Texas quando ele pede demissão do emprego como lavador de pratos e embarca em um ônibus com destino a Manhattan. Seu objetivo é ficar rico, tornando-se garoto de programa e se vendendo para mulheres e gays ricos. Ele percebe duas coisas: (1) é mais difícil do que ele pensa e (2) ele não é bom nisso. Seu primeiro “emprego” dá tão errado que ele acaba pagando a cliente quando acaba. Seu segundo trabalho termina sem dinheiro porque seu “cliente” não tem com que pagar. Entra Rizzo, que afirma saber qual é o problema de Joe: ele precisa de um cafetão.

Por uma taxa, Rizzo concorda em arranjar um cafetão para Joe, o notório Sr. O’Daniel (John McGiver). Acontece que, embora O’Daniel possa ter se envolvido no comércio sexual, ele é agora um fanático religioso determinado a converter todos os que cruzam o seu caminho. Joe, furioso, sem um tostão, e logo despejado de seu hotel, encontra Rizzo, que mostra sinais de arrependimento. Ele convida o texano a se mudar para seu “barraco” para que eles possam planejar seus próximos passos. Seu esquema para enriquecimento rápido não funciona bem e, na medida em que uma tosse de Rizzo se torna aguda (sugerindo uma doença grave), Joe assume o papel de cuidador.

A classificação indicativa do filme (para maiores de 18 anos, nos EUA) mostra nitidamente as mudanças nas normas culturais. A representação franca (embora não pornográfica) da atividade homossexual no filme ultrapassou os limites do tabu do final da década de 1960 (também há uma certo homoerotismo no relacionamento Joe/Rizzo, embora isso não seja explorado com todas as letras). Sem fazer nenhuma alteração no conteúdo, hoje, o filme seria classificado para 14 anos, sem dúvidas. Cenas que chocaram o público em 1969 dificilmente levantariam uma sobrancelha hoje.

Na medida em que os elementos do sucesso de Perdidos na Noite deixaram de parecer ousados, alguns aspectos do filme perderam um pouco do seu brilho original. O que sobreviveu, porém, foi a complexidade da relação entre os dois protagonistas e o arco trágico alcançado pela sua interação.

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