Pink Moon

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Como lidar com a morte quando ela é uma escolha amparada por lei? Em “Pink Moon” acompanhamos filhos tentando entender o desejo de morrer do pai.

O luto pela perda de pai e mãe já é uma situação complexa se ocorrer da forma que acredita-se ser a mais natural, na velhice. Imagine se um pai, aos 74 anos, beirando ao aniversário, reunisse os dois filhos e falasse com a maior calma do mundo: “decidi que quero morrer”. Pink Moon, dirigido pela holandesa Floor Van der Meulen, começa com essa conversa na mesa de jantar e traz um drama que oscila entre o cômico e o desesperador para tratar da prática de suícidio assistido.

Em Pink Moon acompanhamos a saga de Iris (Julia Akkermans) e do irmão Ivan (Eelco Smits) em compreenderem a decisão do pai Jan (Johan Leysen)  de morrer logo após o aniversário de 75 anos. Jan é um homem viúvo, aparentemente saudável e independente, que anuncia num jantar de família que já tem tudo planejado: vai ingerir um medicamento letal com iogurte, em sua própria casa, e precisa que alguém o acompanhe. Em um primeiro momento surgem perguntas se ele está doente ou se descobriu algo e ele categoricamente diz que não. A partir de então quem assiste acompanha o cotidiano de Iris, que tem em torno de 30 anos, na busca de respostas não só para a vida, mas também para a morte e todas as coisas que ela não viveu na presença do pai.

Apesar da aparência saudável de Jan, os filhos têm suas próprias vidas e ele se sente sozinho desde a morte da esposa. Pink Moon tem um recorte de classe bem nítido, é perceptível como Iris e Ivan têm vidas bem sucedidas: ela com uma carreira e ele com esposa e filhos. A direção de arte aponta, também, para a vida confortável de Jan, passeamos por uma casa com arquitetura moderna, repleta de obras de arte contemporânea. Ele realmente é uma pessoa que pode não sentir mais desejo pela vida que leva, o que também é uma questão complexa para os filhos que ainda estão vivenciando seus próprios processos de realização.

Julia Akkermans executa uma boa performance como protagonista que vai do tédio do cotidiano ao desespero de praticamente sequestrar o pai e fazê-lo viver situações que possam trazer desejo pela vida, há desconsolação mas também disposição no olhar dela. Há 20 anos que leis sobre eutanásia e suícidio assistidos são uma realidade na Holanda, um país que, inclusive, foi mudando a própria linguagem para se referir à morte como algo que também é uma escolha.

Pink Moon é cuidadoso, e divertido em muitos momentos, que discute tabus sobre a morte e as maneiras como lidamos com a ideia de um fim. É um filme que prioriza o roteiro (de Bastiaan Kroeger) e que consegue fornecer uma ficção contundente sobre uma situação real. Claro que a realidade daquelas pessoas é muito diferente de outras que lidam com a ameaça da morte em suas rotinas. A diretora diz em uma entrevista que “A vida é mais absurda do que imaginamos” e, talvez, o filme nos ajude a pensar em que condições é possível escolher o absurdo.