Por Inteiro se insere em uma leva recente de romances com pitadas de ficção científica, todos centrados em um mesmo ponto de partida: e se existisse um teste capaz de provar quem é a sua alma gêmea? O conceito é instigante, mas aqui serve mais como pano de fundo para um drama essencialmente humano, focado na trajetória de Laura (Imogen Poots) e Simon (Brett Goldstein), dois melhores amigos que parecem destinados um ao outro, mas que nunca encontram o momento certo para viver essa verdade.
O filme acompanha doze anos da vida dos personagens, recortando momentos significativos que moldam seus caminhos. Casamentos, filhos, perdas e reconciliações marcam a jornada, enquanto a chama de um amor não realizado continua a arder entre eles. Essa estrutura fragmentada, que avança em saltos de tempo, dá ritmo ao drama e traduz de forma eficaz a sensação de oportunidades perdidas. Ainda assim, por vezes o recurso soa mais esquemático do que emocionalmente devastador.
Imogen Poots é o grande alicerce do filme. Ela entrega uma performance carismática e dolorosa, conseguindo transitar entre o humor das conversas com Simon e a vulnerabilidade nos momentos de maior peso emocional. Brett Goldstein, por outro lado, não alcança a mesma profundidade, deixando o par central um pouco desequilibrado. Essa disparidade acaba comprometendo a força do relacionamento, já que é nela que o público deveria investir plenamente.
O elemento sci-fi é usado de forma pontual, sem jamais dominar a narrativa. O teste de compatibilidade funciona como um catalisador, mas também como metáfora para tantas barreiras que se interpõem nos relacionamentos do mundo real. Assim, a ficção científica é apenas um pretexto elegante para falar de escolhas, renúncias e do que deixamos escapar. Esse equilíbrio torna Por Inteiro mais acessível e menos artificial do que outras produções recentes com premissas semelhantes.
Ainda assim, o filme nunca mergulha com intensidade suficiente nos extremos emocionais que promete. A história parece constantemente operar em uma marcha mais baixa, preferindo a sutileza à explosão. Se por um lado isso dá à obra um tom calmo e delicado, por outro, frustra aqueles que esperam uma catarse à altura das dores e alegrias retratadas. Faltam os grandes picos de emoção que fariam a jornada ressoar de maneira mais duradoura.
Há, no entanto, uma qualidade genuína na forma como a narrativa retrata a passagem do tempo e os pesos acumulados das decisões. O espectador é convidado a se perder junto dos protagonistas em uma dança de aproximações e afastamentos, e isso gera identificação. A sensação de que “poderia ter sido” é dolorosamente real e universal, mesmo quando o roteiro não consegue explorar todo o potencial desse dilema.
No fim, Por Inteiro é um romance contido, belo em sua proposta, mas irregular em sua execução. Sustentado pela entrega de Imogen Poots e por uma premissa que, apesar de repetida, ainda é cheia de simbolismos, o filme oferece momentos de ternura e melancolia. Não revoluciona o gênero, nem entrega toda a intensidade que promete, mas funciona como um retrato honesto do amor que se arrasta pela vida sem nunca se realizar por completo.