Raça das Trevas

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O mergulho nas profundezas de "Raça das Trevas": a fantasia sombria de Clive Barker

Habitantes dos cantos escuros da terra, sejam muito bem-vindos a mais uma longa noite nas catacumbas escondidas de Midian…

Escrito e dirigido pelo ícone do terror, Clive Barker, – e também adaptado de sua obra CabalRaça das Trevas é um filme independente de fantasia de horror (ou também chamado de fantasia sombria) que nos traz a história de um jovem problemático, chamado Aaron Boone, que assombrado por visões perturbadoras sobre uma cidade oculta em que seres monstruosos vivem à margem da sociedade, aceita a sugestão de sua namorada Lori Winston, de se consultar com um psiquiatra em busca de um tratamento, e assim por um ponto final a suas aflições. O médico em questão é o Dr. Philip K. Decker que ao invés de ajudar Aaron, causa uma reviravolta ainda maior na vida de Boone, uma vez que, na realidade, Decker é um assassino inescrupuloso, e enxerga no jovem, mais uma de suas vítimas, mas neste caso, manipulando a sua mente – com auxílio de uma droga lisérgica disfarçada de lítio – para que ele aceite que é o verdadeiro serial killer, e assim se entregue a polícia. No entanto, o drama não acaba por aí, já que além das suas visões, ter seu relacionamento amoroso abalado, e de estar sendo manipulado por seu psiquiatra, Aaron Boone é atropelado enquanto está sob efeito da droga do Dr. Decker, indo parar em um hospital em que é atormentado por um homem completamente alucinado.

Mas se você está aí se perguntando porque assistir esse filme no Halloween, eu te conto. Uma das vertentes com mais potencial, e com a tendência de explorar mais elementos é a Fantasia de Horror, já que não se importa em extrapolar o imaginário e características mais comuns adotadas no gênero, principalmente no audiovisual, em que é possível trabalhar tão bem efeitos visuais e sonoros, tanto quanto a criatividade e orçamento permitirem. Roupas, maquiagem, efeitos práticos e CGI, histórias e narrativas que trazem à vida os mais mirabolantes sonhos febris, misturados com camadas mais profundas com debates sociais, ou temas mais adultos.

Raça das Trevas é uma obra independente, de fantasia de horror, que trata sobre os diferentes tipos de monstros, – os internos, os interpretativos, e aqueles que nem sequer alguém é capaz de esconder – adicionando camadas em um debate sobre estilos de vida que destoam do ‘mainstream’, e coloca em evidência a existência dos “desajustados e excluídos”, podendo você imaginar e relacionar com aqueles que você tem algum conhecimento ou vivência sobre.

Um detalhe que eu gosto sempre de apontar é a presença do excelente Danny Elfman na trilha sonora, – um mestre do horror à sua maneira – que nesta obra consegue dar um toque ainda mais assombroso, sem a qual a obra não seria a mesma.

Além disso, outro ponto fortíssimo da obra é o seu “visual”, a sua estética. O capricho que a produção teve no figurino e maquiagem é sensacional, o design altamente criativo das “criaturas” evoca a fantasia sombria pela qual o filme é reconhecido e tão influente nos círculos mais profundos e obscuros do submundo literário e cinematográfico.

AESTHETIC!

No entanto, eu preciso alertar os leitores sobre alguns pontos negativos que podem ser relevantes em sua experiência ao assistir a obra, como o fato de ter alguns momentos inconsistentes. Noite das Trevas precisou passar por vários cortes e reduções, já que os “manda-chuvas” demandaram que o mesmo fosse mais comercial e aceitável, isso claro, dentro de suas visões como businessman, o que prejudicou um pouco. Porém, na minha opinião, isso não tira o valor visionário que esse “estranho” clássico cult tem.

Algumas curiosidades sobre o filme:

  • Danny Elfman que compôs a trilha sonora, alcançou a fama primeiramente por ser o vocalista da banda Oingo Boingo, e após, por escrever a trilha sonora de diversos filmes, sejam eles de comédia, drama, live action ou animação. Também é muito conhecido por compor trilha sonora de vários filmes do Tim Burton.
  • Tanto Cabal (obra em que se baseia o filme) quanto Raça das Trevas alcançaram o status de “Cult”, atingindo grande influência na cultura underground. Um dos nomes que foi influenciado é o artista conhecido como “Dani Filth”, que na véspera de Halloween do ano 2000 lançou o aclamado álbum Midian, com sua banda Cradle of Filth.
  • O personagem “Dr. Philip K. Decker” que em um momento do filme serve o protagonista com LSD ao invés de um remédio adequado para o tratamento do paciente, faz alusão ao escritor de ficção-científica Philip K. Dick, porém a “razão” eu deixo por conta do leitor descobrir.
  • O filme original proposto por Barker teria aproximadamente duas horas e meia, porém, Raça das Trevas precisou ser diminuído em quase uma hora.
  • Os cortes Cabal Cut e Director’s Cut são comumente apontados como as melhores versões da obra, se estendendo por mais de duas horas.
  • O famoso diretor David Cronenberg teve um papel de protagonismo no longa-metragem, interpretando o psiquiatra Dr. Philip K. Decker.
  • Doug Bradley que trabalhou com Clive em Hellraiser interpretando o cenobita popularmente conhecido como “Pinhead” está com aparência igualmente irreconhecível em Raça das Trevas como Dick Lylesberg.
  • Até a data de publicação deste texto o filme Raça das Trevas pode ser assistido nos serviços de streaming HBO Max e Amazon Prime Video.
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