Ratched – 1ª Temporada

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Com visual impecável, Ryan Murphy assume o caricato e trabalha mais uma vez seus temas chocantes preferidos em Ratched.

Se você buscou a série Ratched a procura de reviver a personagem interpretada por Louise Fletcher no filme Um Estranho no Ninho, talvez você possa se decepcionar. Como fica bem explícito, a produção é baseada no romance de Ken Kesey e busca uma nova abordagem para a personagem: seu passado. E esse é o ponto de partida. Num acordo milionário com a Netflix, Ryan Murphy já lançou The Politician e Hollywood, ambas com recepção morna, mas que possuem um certo apelo, já que Murphy se encanta por histórias que falam de homossexualidade, racismo e sexo, e os usa como elementos de choque. E Ratched, não ficou de fora dessa equação.

Sarah Paulson interpreta a enfermeira Mildred Ratched e consegue entregar o tipo de atuação em que ela mais se destaca, com facetas sarcásticas, escondendo uma vulnerabilidade e carga traumática, muito vitimismo e aquele olhar inocente que esconde sempre grandes horrores. Na trama, Mildred busca por uma vaga como enfermeira no manicômio estadual de Lucia para ficar próxima do assassino Edmund Tolleson, interpretado pelo ótimo Finn Wittrock. Quando consegue a posição no hospital ela performa todo tipo de atrocidade com os pacientes e colegas e de quebra precisa lidar com a aceitação de sua sexualidade e sua humanidade corrompida. Como se não bastasse ver Paulson brilhar, ela recebeu um belo presente de dividir os holofotes com a personagem de Cynthia Nixon (Sex and The City), que faz de uma personagem básica, algo muito pessoal, delicado e revelador. Ratched também tem uma rival, a enfermeira Betsy Bucket, interpretada por Judy Davis, que ganha seu espaço ao longo dos episódios com ótimas motivações.

Fica evidente que para fazer a transição de uma personagem coadjuvante para o título da série, é necessário criar uma narrativa que faça com que valha a pena assistir. Existiam dois caminhos para Ratched, seguir como uma personagem enigmática, misteriosa e com características sádicas num evento externo em que ela serviria de fio condutor ou partir para o seu passado e apelar para as justificativas de ela ser como é. Dessa segunda abordagem, o criador Ryan Murphy, entende muito bem e já trabalha com essas explicações e narrações intermináveis na antologia de American Horror Story, que flerta com o mesmo tipo de linguagem abordado aqui e deixa completamente de lado o procedimento de lobotomia que deveria ser o ápice em Ratched. A questão é que essa fórmula já está escassa e soa como uma tortura de roteiro ter que explicar cada detalhe do passado dos personagens e o que os levou até o ponto que estamos acompanhando. Além do estilo da montagem que vai e volta numa linha do tempo entre cidades e épocas, na tentativa de criar peso para todos os acontecimentos.

Sem medo de esconder sua veia caricata e, às vezes exagerada, a série é mais um motivo para adorar Sarah Paulson. Mesmo seguindo a cartilha da velha fórmula de Murphy, a produção consegue utilizar a década de 1947 a seu favor na melhor homenagem a Hitchcock possível. A fotografia é impecável, cada item do cenário é um espetáculo por si só, assim como os carros e os figurinos. Ainda sobram elogios para Sharon Stone, Vincent D´Onofrio e também Corey Stoll, que mesmo numa participação breve, imprime um investigador charmoso com uma pitada noir na medida.

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