O diretor Lasse Hallström constrói, em Regras da Vida, uma jornada de descoberta que equilibra drama e delicadeza, sem cair no melodrama excessivo. Baseado no romance de John Irving, o filme acompanha Homer Wells (Tobey Maguire), um jovem criado em um orfanato sob a tutela do Dr. Wilbur Larch (Michael Caine), um médico carismático que se torna sua figura paterna. Apesar de aprender tudo sobre medicina com Larch, Homer decide partir para conhecer o mundo e escrever sua própria história, apenas para perceber que o passado nunca deixa de nos acompanhar.
O longa se passa nos anos 1940, em uma América moldada pela Segunda Guerra Mundial, e constrói um protagonista que transita entre a ingenuidade e a maturidade com sutileza. Homer embarca em sua jornada ao lado de Candy Kendall (Charlize Theron) e Wally Worthington (Paul Rudd), um casal que chega ao orfanato em busca de um aborto seguro. A saída do orfanato é um divisor de águas para o personagem, que se vê pela primeira vez exposto às complexidades da vida adulta – incluindo um romance proibido e os dilemas morais que sempre evitou.
Regras da Vida acerta ao desenvolver seus personagens com profundidade e respeito, permitindo que suas relações aconteçam de forma natural. A relação entre Homer e Dr. Larch é o coração do filme, retratando não apenas um laço de mentor e aprendiz, mas uma dinâmica quase paterna. Ao mesmo tempo, os laços entre os órfãos criados juntos demonstram como um verdadeiro senso de família pode existir mesmo fora dos padrões tradicionais.
Além da busca de Homer por identidade e propósito, o filme toca em temas delicados como aborto e abuso, sem adotar um tom panfletário. O roteiro de Irving constrói um equilíbrio entre perspectivas distintas, permitindo que a discussão aconteça sem simplificações. O arco dramático envolvendo os trabalhadores da colheita de maçãs adiciona outra camada ao filme, mostrando como segredos podem moldar e destruir vidas.
As atuações elevam ainda mais a força da história. Tobey Maguire entrega um desempenho sutil e introspectivo, perfeito para um personagem que se vê constantemente dividido entre razão e emoção. Charlize Theron evita exageros e imprime profundidade à sua personagem. Michael Caine brilha como Dr. Larch, trazendo uma carga emocional poderosa ao papel. Delroy Lindo e Erykah Badu, como pai e filha dentro da comunidade de trabalhadores rurais, também deixam sua marca.
Visualmente, Regras da Vida encanta com a fotografia de Oliver Stapleton, que captura tanto a beleza fria do orfanato quanto a calorosa paisagem dos campos de maçã. A trilha sonora de Rachel Portman adiciona um toque de sensibilidade sem ser invasiva, contribuindo para a atmosfera melancólica e nostálgica do filme. Hallström conduz tudo com delicadeza, garantindo que cada emoção seja sentida sem precisar ser exagerada.
No fim, Regras da Vida é um filme sobre escolhas, responsabilidades e a busca por pertencimento. Ele nos lembra que, por mais que tentemos fugir do passado, certas lições são inevitáveis. Com atuações sólidas, um roteiro bem estruturado e uma direção cuidadosa, o filme entrega uma experiência envolvente e emocionalmente recompensadora.