Água Para Elefantes

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Posso ousar classificar “Água Para Elefantes” como um bom filme

Ainda que possa desagradar aos amantes do livro de Sara Gruen, a escolha de tornar os personagens Uncle Al, dono tirano do circo “Os Irmãos Benzini”, e August, treinador de animais esquizofrênico, em um só foi talvez o grande acerto da adaptação do romance para as telas. E acerto maior foi entregá-lo ao brilhante Christoph Waltz (“Bastardos Inglórios”). August incorpora a essência do filme, que se reflete, senão em todas, na maioria das partes que compõem este. Ele é a síntese da natureza humana que joga com os seus extremos opostos – bem e mal, belo e grotesco -, mas está sempre no meio. Como não poderia deixar de ser, os fins justificam os meios, que é ele o vilão da trama. Ao mesmo tempo que ama Marlena (Reese Witherspoon), tenta subjugá-la; para manter o mundo mágico do circo em pé em tempos de depressão econômica, dá comida podre aos leões e nega-a a seus empregados, quando não os joga do trem em movimento.

O velho conflito vivenciado por August, na base das relações humanas e na relação entre homem e animais, sumariza-se numa das frases que ele diz a Jacob (Robert Pattinson): “A circus survives on blood, sweat, pain and [excrement].” Belo, sim. E, por isso, sujo. Esse dilema é o mesmo vivenciado pelos protagonistas. Marlena sabe do que acontece nos bastidores do picadeiro, mas deve sua vida e sua carreira ao marido, assim como Jacob. E é por isso que o filme de Lawrence, por mais que tenha seus momentos de alta carga emotiva para tentar derrubar as lágrimas do espectador, não é só mais uma história bonita e bem contada.

Posso ousar classificar “Água Para Elefantes” como um bom filme porque busca incansavelmente por um ponto de equilíbrio e, de forma surpreendente, alcança-o: A obra é harmônica porque capta o mote nas entrelinhas e o reverbera em todas as suas características. O elenco, o figurino, a fotografia, a trilha… nada é excepcional, tudo é balanceado. Exceto o final. A sequência em preto e branco no fim poderia ser cortada, com ganhos. Podemos até mesmo ignorar a falta de atenção ao núcleo de Walter e Camel (não, o fim trágico deles não é tocante), em prol dos muitos planos dos olhinhos apertados de Robert Pattinson observando o entorno, ainda desconfortável como alvo da câmera.

Aliás, quanto às atuações, Witherspoon e Pattinson tem a sorte da sua falta de química em tela trabalhar a seu favor (entre eles um caso de amor, porém de adultério, imoralidade que os agride). Ela constrói uma heroína forte, mas não carismática, e o que se pode dizer dele é que está amadurecendo e melhorando como ator. Ambos dão o seu melhor nas cenas que envolvem os animais, impulsos naturais para a verdade cênica.
No mais, “Água Para Elefantes” tem o mérito de retratar, e com prudência, o abuso sofrido pelos animais nas mãos do homem, tema relevante e em larga escala ignorado.

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