Malasartes e o Duelo com a Morte

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"Malasartes e o Duelo com a Morte" brinca com o imaginário popular brasileiro

O brasileiro sofre de um complexo de vira-lata que se reflete também na forma como uma grande maioria da população se refere ao cinema produzido no país. Muitos ainda acreditam que as produções nacionais ainda estão presas naquele estereótipo de palavrões/sexo/violência perpetuado nas produções dos anos 80/90. Não é verdade, e Malasartes e o Duelo com a Morte é um exemplar diferente das demais produções do país.

No filme, Pedro Malasartes (Jesuíta Barbosa, de Praia do Futuro) é um malandro que, por mais que seja apaixonado por Áurea (Ísis Valverde, de Faroeste Caboclo), não resiste a um rabo de saia. Devendo muito dinheiro a Próspero (Milhem Cortaz, de Mais Forte que o Mundo – A História de José Aldo), irmão de sua amada, Malasartes precisa escapar dele ao mesmo tempo em que prega peças, sempre usando a inteligência, de forma a conseguir alguns trocados. Só que seu padrinho, a Morte (Júlio Andrade, de Elis) em pessoa, tem outros planos para ele.

Malasartes e o Duelo com a Morte tem ainda o selo de produção Globo Filmes, que faz com que a comédia seja estrelada por um elenco novelesco e cheio de tiques televisivos. Então por que considero a produção diferente das demais? A forma como brinca com o imaginário popular.

Malasartes não é um personagem novo. Ele e suas histórias estão por aí e já foram eternizados por Mazzaropi, em As Aventuras de Pedro Malazartes, de 1960. Mas é justamente a forma como a produção resolveu contar o conto do Duelo com a Morte que faz a diferença. Ela recauchuta o personagem, tenta atrair um público mais jovem, mas em nenhum momento parece deixar sua essência de lado.

Através de efeitos especiais bastante eficientes, dignos de Hollywood, o filme une o clássico e o moderno com maestria. Enquanto o cotidiano, onde Malasartes aplica golpes conhecidos do imaginário popular do interior, busca um realismo incrível com paisagens belas, o outro mundo, morada da Morte e seus asseclas, é repleto de efeitos e uma construção fantástica incrível.

Jesuíta Barbosa se diverte na composição e faz de Malasartes um personagem ingênuo na medida, mas ao lado de Vera Holtz (como uma das Parcas), parecem os únicos que não saíram diretamente de uma novela da Globo para a telona. O restante do elenco não fede nem cheira e faz apenas um trabalho funcional.

Há irregularidades no tom de ambos os mundos retratados no filme, mas isso não estraga a experiência. Malasartes e o Duelo com a Morte é um filme importante e com seus pontos positivos, sim, e mostra que se deixarmos de lado o nosso complexo de vira-lata podemos criar um cinema comercial brasileiro que não seja baseado apenas em comédias de erro, mas também em nossa rica cultura popular.

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