O Julgamento de Viviane Amsalem

Onde assistir

O Julgamento de Viviane Amsalem, dos israelenses Ronit e Shlomi Elkabetz, mostra a força do cinema do Oriente Médio tanto como estética quanto com o poder de colocar em cheque tradições e funcionamento de uma sociedade. Os irmãos Elkabetz são eficientes na direção e roteiro, fazem o espectador ir do riso à indignação, questionando suas próprias raí­zes e religião.

A palavra “Gett”, do tí­tulo original, representa em hebraico o documento de divórcio, uma situação aparentemente simples no ocidente nas últimas décadas, mas altamente penosa e conflituosa para casais judeus, principalmente para as mulheres. Na tradição judaica qualquer ação para terminar o casamento deve vir do homem, e no caso de Viviane o julgamento vai parar na mão de rabinos, que tentam todo tipo de reconciliação, tornando a situação uma espécie de tragicomédia, pois o marido não tem a mí­nima intenção de dar liberdade à mulher, fazendo com que esse impasse se arraste por anos.

01VivianeAmsalem
O filme é totalmente rodado em espaço privado, dentro da Corte. O espectador acaba prestando mais atenção nos movimentos corporais, nos olhares trocados, na firmeza dos comportamentos dos homens em cena. Em todos os momentos em que Viviane poderia sentir ódio de seu ex-companheiro, ou das testemunhas – que mais atrapalham do que ajudam -, ela se mostra firme porém resignada ou mesmo paciente. Mas como manter essa calma em quase seis anos de julgamento que, juntando com os anos de separação, são quase nove?

Vale mencionar que os irmãos Elkabetz estão há quase doze anos trabalhando com a personagem Viviane, mas não se preocupe, assistir O Julgamento de Viviane Amsalem não irá deixar o espectador confuso. A saga de Viviane começou ainda em 2004 com To Take a Wife, seguiu em 2008 com Sete Dias e chega em novo ponto com O Julgamento de Viviane Amsalem, todos os longas tratam da batalha entre tradição e liberdade. Quando questionados se Viviane ainda irá protagonizar novos filmes, os irmãos ainda respondem com dúvida, será que ela ainda tem mais pelo que lutar?

02VivianeAmsalem
Além de dirigir, Ronit Elkabetz protagoniza O Julgamento de Viviane Amsalem. Ela é confortável no papel e a força de sua interpretação estão nos olhos, Viviane é uma mulher que demonstra em cada gesto que sabe onde quer chegar, nunca vencida pelo cansaço. O advogado de Viviane, Carmel Ben-Tovim, interpretado por Menashe Noy também é um grande acerto, como um homem em defesa de uma mulher e várias vezes acusado de ter segundas intenções em relação a ela, ele se sai muito bem.

A beleza de O Julgamento de Viviane Amsalem – assim como em boa parte da excelente produção contemporânea do Oriente Médio – está na simplicidade e poder de aliar o entretenimento com questionamentos mais profundos. O filme foi um dos finalistas a concorrer a estatueta do Oscar, como filme estrangeiro, em 2015. Isso teve um impacto interessante no paí­s de origem e graças a ele muito vem se discutindo publicamente sobre as leis do matrimônio e direitos das mulheres em Israel.

03VivianeAmsalem
Em certo andamento do julgamento Viviane olha para fora de uma janela dentro da Corte. É a primeira vez que vemos o espaço externo nos mais de cinco anos em que o divórcio tenta ser resolvido. É possí­vel sentir o vislumbre de Viviane Amsalem, o espectador está com ela nisso, mesmo que talvez olhando de fora para dentro, apenas tentando entender o que se passa ali. Como diria a poeta Cecília Meireles em Romanceiro da Inconfidência: “Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”. Justamente, O Julgamento de Viviane Amsalem é sobre essa palavra alimentada, a liberdade.

Nota:

[wpdevart_youtube]8510XsdKBBo[/wpdevart_youtube]

Você também pode gostar...