Por Trás da Inocência

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Por Trás da Inocência é um filme sedutor mas que não deve ser levado a sério

A liberdade de ser mulher nem sempre é muito bem explorada no cinema por estar sempre associada ao olhar masculino sobre o que uma mulher deve ou parecer ser. Seus sentimentos também são sempre tratados como menos importantes e suas prioridades são histéricas. Acontece que mesmo sob um olhar feminino, as coisas podem deslizar. Esse é o caso do novo filme da Netflix, Por Trás da Inocência.

O suspense quase erótico dirigido e escrito por Anna Elizabeth James, tem como protagonista a lindíssima Kristin Davis (Sex and The City) que esbanja sua sensualidade e aproveita ao máximo para mostrar que está com tudo em cima no auge de seus 56 anos. Ela interpreta Mary, uma escritora famosa, casada com Tom (Dermont Mulroney), com o qual tem 2 filhos. Em meio a pressão da editora para lançar um novo livro, ela vê a necessidade de arrumar uma babá para tomar conta dos filhos enquanto mergulha no universo que precisa criar.

Até aí já deu para prever tudo o que vai acontecer no filme, mas sabe que é interessante assistir mesmo assim? O filme se coloca como um daqueles suspenses de sedução típico dos anos 90 e revisita muitas fórmulas narrativas como a arquitetura da casa de Mary, bem geométrica e clean, e seu figurino quase que de uma espiã de seriado dos anos 50 deixam a personagem mais misteriosa. O fato dela fumar um charuto muito bem selecionado completa esse combo com aquela velha ideia de que fumar é chique. E mais do que isso, serve para estabelecer uma inversão de papeis entre gêneros bem literal, mas que funciona para mostrar que a dominância nesse filme é feminina.

Grace (Greer Grammer) é a babá quase perfeita contratada por Mary, que não engana ninguém com seu jeito meigo, doce e irritantemente prestativo. Seu visual infantil com tranças e um laço rosa no cabelo imprimem uma Lolita em potencial que acaba mexendo com os sentimentos de Mary, que se vê atraída por ela. O interessante dessa relação entre as duas é perceber que os desejos mais íntimos das mulheres são consumidos com outra mulher e não por um homem. Até aí o filme consegue entregar um aspecto interessante sobre essa união feminina pelo prazer e a admiração mútua que não teria tanta profundidade se o affair fosse heterossexual. Acontece que ao estabelecer esse discurso, o roteiro desmorona e retrocede ao colocar Mary numa situação de paranoia ao achar que seu marido, constantemente vitimizado, a está traindo com a babá. Mas o pior, é que Tom dá vários sinais de traição ao longo do filme que parecem não incomodar a esposa ou pior, ela acaba sendo conivente com aquele comportamento inapropriado que também complementam esse clichê que estava lutando tão bem para ser combatido.

Ao abordar um bloqueio criativo sem pé nem cabeça e tentar fazer a gente engolir que a personagem está vivendo a ficção de seu livro, misturando a imaginação com a realidade, só brotam desculpas para os furos do filme que não conseguem passar despercebidos. Por fim, o longa ganha muito com a presença marcante de Kristin Davis que vale os minutos assistidos, tem ideias muito interessantes até sua metade, um visual sedutor, mas o final é digno de gargalhadas.

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