Selma: Uma Luta Pela Igualdade

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“Selma”: Marchando contra a opressão e a injustiça

Selma: Uma Luta Pela Igualdade nos transporta para o turbulento início de 1965, quando a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos viveu um dos momentos mais tensos e decisivos. O filme retrata, com coragem e sensibilidade, as marchas históricas de Selma até Montgomery lideradas por Martin Luther King Jr. (David Oyelowo) em busca da igualdade nos direitos de voto para os afro-americanos. A narrativa leva o espectador não apenas a uma reflexão sobre o passado, mas também a uma compreensão mais ampla das lutas que ainda persistem.

O filme de Ava DuVernay destaca-se ao não suavizar a brutalidade do contexto histórico. Em uma era de filmes que muitas vezes aliviam o peso de temas difíceis para alcançar uma classificação mais acessível, Selma não hesita em exibir a violência da opressão racial. Esse compromisso com a verdade crua concede ao filme um realismo impactante, digno de respeito e, mais ainda, de debate. O tom intenso torna a experiência de assistir ainda mais próxima do sentimento vivido por quem participou desse capítulo doloroso da história.

David Oyelowo dá vida a Martin Luther King Jr. com uma interpretação carismática e intensa. Mesmo sem o uso dos discursos originais de King, a atuação de Oyelowo transmite a paixão e o poder que ecoaram nos históricos sermões do líder. Como em Lincoln, de Steven Spielberg, Selma opta por focar em um episódio específico da vida de King, revelando suas lutas internas e o fardo emocional de ser um símbolo de esperança e mudança. Esse retrato humanizado de King aproxima o público do homem por trás da figura pública, revelando suas inseguranças e o impacto de sua luta em sua relação familiar.

Um dos pontos mais debatidos em Selma é a representação de Lyndon B. Johnson, que muitos críticos consideraram injusta ou imprecisa. Embora o presidente apareça como um aliado hesitante, sua caracterização por Tom Wilkinson acaba um pouco deslocada. A performance é competente, mas nunca nos leva a esquecer o ator interpretando o papel. A liberdade criativa de DuVernay nesse aspecto visa aprofundar o contraste entre a determinação de King e a postura política, muitas vezes calculada, de Johnson.

A recriação visual do Sul dos Estados Unidos nos anos 1960 é um dos trunfos de DuVernay, que utiliza tons opacos para intensificar o sentimento de sufocamento e isolamento enfrentado pela comunidade afro-americana. As legendas simulando relatórios do FBI podem parecer um pouco artificiais, mas a imersão nas marchas, especialmente a recriação de “Domingo Sangrento”, é autêntica e devastadora. Ao inserir cenas reais no clímax da narrativa, o filme amplia o impacto emocional e reforça a gravidade dos eventos.

Selma destaca-se por sua capacidade de reviver os eventos de 1965 com uma urgência e vitalidade que transcendem a página de um livro de história. Ao assistir ao sofrimento e à determinação dos manifestantes, é difícil não refletir sobre o quanto a sociedade avançou, mas também sobre o quanto ainda precisa evoluir. O filme funciona como um espelho dos maiores desafios da sociedade moderna, e o reflexo não é fácil de ignorar.

A Marcha de Selma foi uma das etapas mais intensas na caminhada da América em direção à justiça social e à igualdade. A aprovação do Voting Rights Act não foi um ponto final, mas um marco em uma luta ainda longe de ser concluída. O filme celebra não apenas o triunfo do movimento, mas também nos lembra que, ao longo de toda a história americana, o progresso sempre veio com um preço.

Selma: Uma Luta Pela Igualdade é um dos raros filmes que promovem uma reflexão profunda e inspiram o espectador a ponderar sobre a sociedade e o papel de cada um na construção de um mundo mais justo. Ao sair do cinema, a pergunta que fica é: quantos filmes conseguem fazer o mesmo?

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