Setembro 5, dirigido por Tim Fehlbaum, revisita o Massacre de Munique de 1972 com um olhar inédito, focado na equipe da ABC Sports que, inesperadamente, se viu no centro da maior tragédia da história olímpica. Ao invés de dramatizar os eventos a partir dos reféns ou dos terroristas, o filme acompanha jornalistas que começaram cobrindo o evento esportivo e terminaram transmitindo, em tempo real, um ato de terror. O resultado é um thriller tenso e realista, que expõe os desafios do jornalismo em meio ao caos.
A escolha de Fehlbaum de mesclar imagens de arquivo com reconstituições fiéis à época confere autenticidade à narrativa. A direção evita sentimentalismo excessivo e mantém o foco na tensão crescente dentro da equipe de reportagem, que precisa se adaptar às informações fragmentadas e tomar decisões cruciais sob imensa pressão. Peter Sarsgaard, como Roone Arledge, e Benjamin Walker, no papel do então jovem repórter Peter Jennings, oferecem atuações precisas, capturando o desespero e a responsabilidade de noticiar algo que o mundo assistia atônito.
O longa lembra o recente Saturday Night, de Jason Reitman, ao explorar os bastidores de uma transmissão ao vivo como se o público estivesse imerso na experiência. A câmera trêmula e a edição ágil reforçam a urgência da cobertura, fazendo com que a tensão permaneça alta, mesmo que a maioria dos espectadores já saiba como a tragédia termina. A incerteza não está no desfecho, mas no processo – na luta da equipe para manter o controle da narrativa diante de uma situação caótica.
Outro acerto de Setembro 5 é sua disciplina narrativa. O filme não se desvia para subtramas desnecessárias nem tenta romantizar seus personagens. Não há flashbacks para contextualizar os jornalistas, nem momentos forçados de catarse emocional. Em vez disso, Fehlbaum confia no peso dos eventos e no impacto natural das imagens, permitindo que a história se desenrole com um senso de urgência brutal.
A tensão culmina na cobertura do confronto final no aeroporto, onde o filme toma a decisão acertada de manter o ponto de vista dos jornalistas, sem mostrar diretamente os reféns ou os terroristas. O uso de imagens reais da transmissão da ABC, incluindo as palavras inesquecíveis de Jim McKay – “Eles estão todos mortos” –, dá ao filme um tom documental que intensifica sua força emocional.
Mais do que um relato sobre o Massacre de Munique, Setembro 5 é um filme sobre a mídia e seu papel na maneira como tragédias são percebidas pelo público. Ele evidencia como essa transmissão ao vivo serviu de modelo para a cobertura de crises nas décadas seguintes, moldando a forma como o jornalismo lida com eventos traumáticos.
Fehlbaum entrega um dos thrillers mais impactantes do passado recente, conseguindo prender o espectador mesmo com um final conhecido. Com um olhar clínico para os bastidores da mídia e um respeito evidente pela gravidade da tragédia, Setembro 5 se firma como um dos grandes filmes recentes.