O último filme de Clint Eastwood como diretor, Jurado Nº 2, é um thriller jurídico que explora os limites da ética e da moralidade, temas recorrentes na filmografia do cineasta. Interpretado por Nicholas Hoult, Justin Kemp é um jurado confrontado por um dilema: decidir o destino de um réu acusado de um crime que, ele sabe, foi causado por ele próprio. Essa premissa intrigante guia um drama envolvente que questiona a confiabilidade do sistema judiciário e a complexidade do peso da culpa.
Diferentemente de outros trabalhos de Eastwood, como Gran Torino ou Sobre Meninos e Lobos, aqui não há espaço para resoluções explosivas ou personagens de ação. Em vez disso, o diretor opta por um ritmo mais contido, permitindo que o drama de Justin, seus olhares evasivos e suas expressões de tormento conduzam a narrativa. A interpretação de Hoult é sólida, carregando o filme com intensidade silenciosa que cresce à medida que o julgamento avança.
A história se passa na Geórgia, e o cenário local adiciona um toque de autenticidade ao drama. Toni Collette brilha como a promotora Faith Killebrew, cuja ambição política é ameaçada pelas revelações que surgem no tribunal. Sua performance equilibra o pragmatismo profissional com momentos de vulnerabilidade, algo que reforça o conflito ético central do filme.
Enquanto o roteiro de Jonathan Abrams brinca com clichês do gênero — o jurado indeciso, o advogado desesperado, os preconceitos entre os jurados —, ele também oferece nuances ao abordar as falhas do sistema de júri popular. A discussão sobre como vieses pessoais podem influenciar decisões que deveriam ser objetivas é um dos pontos mais fortes do filme, remetendo ao clássico 12 Homens e uma Sentença.
Por outro lado, o filme não escapa de algumas soluções convenientes, especialmente no terceiro ato. O artifício de omitir a votação final do júri, revelando o veredicto apenas na sala do tribunal, parece uma estratégia mais dramática do que narrativa. Ainda assim, a escolha dá ao público a oportunidade de refletir sobre o peso das decisões tomadas fora da tela, algo que Eastwood utiliza com habilidade.
É interessante notar como Eastwood consegue dar humanidade a todos os personagens, até mesmo os mais secundários. J.K. Simmons, como Harold, o jurado ex-policial, traz uma perspectiva diferente para o caso, adicionando uma camada de profundidade à discussão sobre justiça. Essa abordagem, combinada com a edição precisa de Joel Cox, cria um filme que mantém o espectador atento a cada detalhe.
Jurado Nº 2 pode não ser tão memorável quanto os grandes sucessos de Clint Eastwood, mas seu tom introspectivo e sua mensagem ambígua são adequados para uma despedida de um dos diretores mais respeitados do cinema. Em vez de explosões ou confrontos finais, Eastwood oferece uma reflexão sobre responsabilidade, verdade e as imperfeições humanas. Um final sutil, mas digno, para uma carreira lendária.