Som da Liberdade

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“Som da Liberdade” é o tipo de filme em que os roteiristas pensaram primeiro na mensagem que queriam passar, antes de pensar na história em si

Som da Liberdade é o tipo de filme em que os roteiristas pensaram primeiro na mensagem que queriam passar, antes de pensar na história em si. A sua mensagem é lançar luz nos horrores do tráfico sexual de crianças. Ele faz isso mostrando sequências impiedosas de crianças em perigo, sendo carregadas por adultos nojentos e nos fazendo lembrar dos rostos de todos.

Depois, temos um herói, Tim Ballard, um americano cujo superpoder é se importar. Este pai e marido se preocupa tanto que ele deixa o emprego na Polícia dez meses antes de começar a receber sua pensão. Em vez de apenas capturar pedófilos, como já fez quase 300 vezes antes, ele vai para a Colômbia disfarçado para ajudar a resgatar crianças. Ele é interpretado por Jim Caviezel, gentil e sério, que assume o sofrimento desta mensagem, assim como quando interpretou Jesus Cristo em A Paixão de Cristo.

A história é baseada em fatos reais, mas mal interessa com a narrativa proposta pelos roteiristas. O que é uma pena, porque seria interessante de se ver algo com o tema, se fosse melhor abordado. Se Som da Liberdade estivesse menos preocupado em ser algo “importante”, poderia ser mais que um clima, poderia ser um filme de verdade.

Acaba que o longa é um tédio só, com uma postura narrativa nada ousada – preocupar-se com a segurança das crianças é praticamente a causa mais fácil para qualquer ser humano remotamente decente. Medo da Verdade e Busca Implacável já apostaram nessa tensão, mostrando como é fácil investir em uma história quando crianças são roubadas e colocadas em perigo. Mas embora esteja tão comprometido com o sofrimento dessas crianças, a narrativa truncada dos roteiristas negligencia dar corpo às suas ideias ou personagens ou adicionar mais intensidade à lenta busca de seu protagonista por duas crianças cujos rostos não o deixam dormir. O selo “baseado em fatos reais” fica de lado pois dá para sentir todas as manipulações que o roteiro tenta fazer com o espectador.

O filme está tão preocupado com as crianças que parece evitar criar outros momentos e, por isso, coloca o protagonista em cenas monótonas. Suas missões secretas, que às vezes o fazem falar como os pedófilos que persegue, têm mais a ver com o desconforto do público do que com o perigo em si. É um momento anticlimático após o outro e, embora seja intrigante ver como o diretor se afasta da violência, da pedofilia, do machismo, ele não acrescenta nada em seu lugar. O filme fica vazio.

Caviezel é o ponto crucial para que esse estudo oco de personagem seja levado o mais a sério possível. É uma atuação contida, mas perde seu apelo pois o filme não desenvolve seu personagem para nada além de um símbolo, um messias salvador das crianças que sofrem pedofilia (oi, Jesus!). Uma pesquisa breve no YouTube sobre o verdadeiro Ballard mostra que ele é um tipo muito mais interessante do que vemos aqui. Isso sugere as graves mudanças do filme, focadas na mensagem e não na história.

O longa pretende ser uma conversa difícil sobre o mundo do tráfico sexual infantil, mas dificilmente é mais informativo do que um filme de terror sobre um serial killer fictício. Alguns fatos sobre essa forma de escravidão moderna são compartilhados nos textos antes dos créditos finais, e há uma nota sobre como a dedicação de Ballard ajudou a criar a lei que facilita a cooperação internacional em tais situações, mas essas notas ainda são ofuscadas pelo Som da Liberdade tentando fazer da causa algo sobre si mesmo.

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