Tesouro, com direção de Julia von Heinz, é uma mistura peculiar de road movie e drama histórico que explora as feridas abertas pelo Holocausto sob uma lente íntima e familiar. Adaptado do romance autobiográfico Too Many Men de Lily Brett, o filme acompanha Ruth (Lena Dunham), uma jornalista nova-iorquina idealista, e seu pai Edek (Stephen Fry), um sobrevivente da tragédia. Juntos, eles revisitam as origens de Edek na Polônia, enfrentando o peso de um passado doloroso que ele preferia esquecer.
A força do filme está na relação central entre Ruth e Edek. Lena Dunham entrega uma Ruth determinada, mas frequentemente frustrada, enquanto Stephen Fry traz humor e profundidade a Edek, um homem que esconde traumas profundos atrás de piadas e charme. A química entre os dois é inegável, mas o filme por vezes cai no exagero cômico, especialmente com o sotaque polonês de Edek.
O roteiro equilibra momentos de humor com cenas mais sombrias, como as visitas a locais marcados pela história do Holocausto. No entanto, algumas escolhas narrativas, como a abordagem superficial de questões pessoais de Ruth, como seu distúrbio alimentar, parecem fora de lugar e não se integram totalmente à trama principal. Esses elementos poderiam ter sido melhor desenvolvidos ou, talvez, eliminados para manter o foco nas feridas do Holocausto.
Von Heinz opta por uma direção visual que reforça o peso da história. A recriação da Polônia pós-Cortina de Ferro é sombria e melancólica, com tons acinzentados e uma atmosfera opressiva que dialoga com os traumas enfrentados pelos personagens. Locais como Łódź e Auschwitz-Birkenau são representados com um respeito silencioso, servindo como lembretes visuais do impacto do passado.
Embora o filme não arrisque muito em sua narrativa, ele aborda a complicada dinâmica entre gerações de sobreviventes e descendentes do Holocausto de maneira honesta. Ruth busca entender as raízes de sua família enquanto Edek luta para manter essas memórias enterradas. Essa tensão oferece momentos emocionantes, mesmo que o filme, como um todo, seja mais leve do que o material parece exigir.
A sinceridade é o que torna Tesouro especial. Mesmo com sua abordagem simples e ocasionalmente sentimental, é evidente que o projeto é profundamente pessoal para seus atores principais, ambos com heranças judaicas. Essa conexão genuína transparece, adicionando peso emocional a um filme que poderia facilmente parecer superficial.
No final, Tesouro é uma jornada de autodescoberta que, apesar de suas limitações, consegue emocionar. Com uma ambientação vívida e atuações sinceras, o filme oferece uma reflexão modesta, mas significativa, sobre memória, legado e a complexidade de se confrontar o passado. Uma obra que toca suavemente, mas com propósito, o coração do espectador.