Como parte do especial de terror promovido pela Amazon Prime Video em parceria com a produtora Blumhouse, a mesma de O Homem Invisível, The Lie estreia no catálogo do streaming com uma proposta bem diferente. A diretora e também roteirista Veena Sud, conhecida por The Killing, pega uma história rasa sobre uma adolescente traumatizada pela separação dos pais e faz com que isso tome outras proporções. Jay (Peter Sarsgaard) e Becca (Mireille Enos) vivem um casal que, como muitos, se separaram por incompatibilidades de convivência, ele músico e ela uma advogada de sucesso. Kayla, a filha deles vivida por Joey King (A Barraca do Beijo) vive de uma casa para outra e lidando com os novos relacionamentos de seus pais.
Na trama, Jay está levando Kayla para um retiro da escola de ballet e no meio do caminho eles dão carona para Britney (Devery Jacobs), a melhor amiga de Kayla, que acaba desaparecendo misteriosamente após eles pararem na estrada próximo a um rio. Nisso, Kayla assume que empurrou a amiga, dando início ao desenrolar do filme. Nessa premissa o roteiro junta todas as pistas mais óbvias possíveis, plantando ganchos de infidelidade de Jay, da forma maliciosa com que Britney fala com o pai da amiga e também deixa no ar um possível amor além da conta de Kayla por seu pai. Fica a cargo então da mãe, Becca de tentar amarrar uma mentira para que a polícia não saiba da verdade.
O twist está justamente nesse ponto em que a investigação em si, que inclusive é quando o longa começa a tomar mais ritmo, acaba não sendo o foco do filme, mas sim o controle e domínio de Kayla sobre seus pais. A personagem, que usa da bombinha de ar como ferramenta de fragilidade para a audiência, ganha a vantagem de se esconder numa mentira para viver uma realidade a parte com a família perfeita. A essa altura valem gritos histéricos sem motivo, se esconder no quarto após uma discussão e abraçar o olhar de vítima de forma profissional. E aí entra o tema real do filme que questiona até que ponto os pais são capazes de defender os filhos cegamente e o que eles estariam dispostos a fazer para isso.
A assinatura da diretora permite interpretações mais completas de seu ótimo elenco, mas mesmo com esse tempo nas mãos, os personagens não conseguem deixar a superfície e causar um impacto de relevância ou de carisma. Joey King é quem ganha as melhores oportunidades e imprime uma adolescente instável, mimada e irritante em contraponto a tudo que já fez na carreira. Nesse contexto, Sud carrega a mão e marca um semblante gelado e de ritmo calmo, que dão forma a linguagem do seu terror psicológico sem precisar de um assassino mascarado, aparições de mortos vivos nos cantos do quarto ou de sonhos para buscar um susto coletivo. Porém, a aposta na reviravolta como maior trunfo, pode fazer o filme sofrer rejeição justamente pela falta de terror na sua escolha.