Twinless: Um Gêmeo a Menos

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"Twinless": Entre o luto e o desconhecido

Twinless: Um Gêmeo a Menos começa como uma história intimista sobre a dor de perder alguém que parecia ser uma extensão de si mesmo, mas rapidamente revela que suas ambições vão muito além do drama convencional. A jornada de Roman, vivido por Dylan O’Brien, é construída sobre a fratura emocional deixada pela morte do irmão gêmeo, e o filme abraça essa vulnerabilidade desde o início. James Sweeney conduz a narrativa com uma mistura peculiar de humor, estranhamento e melancolia, criando um terreno emocional instável que nos aproxima ainda mais do protagonista.

O primeiro grande acerto do longa é a forma como explora a solidão que nasce do luto. Roman, sempre tido como o gêmeo “menos brilhante”, parece ainda mais perdido sem sua outra metade. Quando decide participar de um grupo de apoio destinado a pessoas que também perderam seus gêmeos, o filme ganha uma camada inesperada de delicadeza, revelando como essas conexões improváveis podem surgir dos traumas compartilhados.

É nesse ambiente que Roman conhece Dennis, interpretado pelo próprio Sweeney. Carismático, culto, irônico e cheio de arestas afiadas, Dennis é quase um espelho invertido de Roman — e é justamente desse contraste que nasce a força da relação entre eles. A amizade que se desenvolve ali tem algo de imprevisível e profundamente humano, ao mesmo tempo confortável e inquietante.

O longa logo mostra que não se contentará em ser apenas uma dramédia excêntrica. A narrativa começa a dobrar-se sobre si mesma, mudando de tom e textura com uma ousadia surpreendente. A sensação é de caminhar sobre um fio: a cada cena, o filme pode pender para o humor desconfortável, para o suspense psicológico ou para uma emoção genuína que desarma o espectador. Essa versatilidade é conduzida com muita segurança por Sweeney, que equilibra gêneros sem perder de vista o que realmente importa.

O’Brien impressiona ao viver dois personagens, e o faz com sutileza rara. Seu Roman é contido, inseguro, sempre à sombra do irmão, enquanto suas aparições em flashback revelam um Rocky magnético e expansivo. Essa dualidade — essencial para o impacto emocional da história — é explorada sem excessos, mas com intensidade suficiente para que cada interação nos lembre do abismo que separa os dois. Há também espaço para um romance improvável e terno, que adiciona uma dimensão afetiva importante sem dominar a narrativa.

Sweeney, por sua vez, entrega um personagem complexo, provocador e cheio de nuances, evitando qualquer caricatura fácil. O filme navega por temas espinhosos relacionados à identidade, desejo, dependência emocional e às camadas específicas do luto queer, sempre com coragem e honestidade. Ele brinca com expectativas, desafia convenções e, mesmo quando flerta com o absurdo, nunca se desconecta do coração partido que o sustenta.

No fim, Twinless: Um Gêmeo a Menos é uma obra que desconcerta e ao mesmo tempo acolhe. É estranho, doloroso, engraçado, às vezes desconfortável — e tudo isso faz parte da experiência. James Sweeney cria um filme surpreendentemente original, que não teme arriscar e que encontra sua força justamente na vulnerabilidade de seus personagens. Uma história sobre perda, identidade e laços que sobrevivem ao impossível, contada com ousadia e uma sensibilidade rara.

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