Um Pequeno Favor é um daqueles filmes que parecem estar sempre à beira do exagero — e é justamente isso que o torna tão divertido. Dirigido por Paul Feig, o longa mistura suspense, comédia e uma pitada de sátira suburbana com um estilo visual elegante e exagerado. Ainda que o equilíbrio entre esses tons nem sempre funcione perfeitamente, o resultado é uma obra charmosa e imprevisível, que diverte mais do que intriga.
A trama começa como uma comédia leve sobre mães muito diferentes: Stephanie (Anna Kendrick), dona de casa perfeccionista com um canal de receitas, e Emily (Blake Lively), executiva de moda que parece saída de um editorial da Vogue. Quando Emily desaparece misteriosamente, Um Pequeno Favor mergulha no território do thriller, com Stephanie assumindo o papel de detetive amadora em busca de respostas. A partir daí, segredos são revelados, alianças mudam e o filme abraça o absurdo com prazer.

Grande parte do charme do filme vem da química entre Kendrick e Lively. As duas estão em momentos inspiradíssimos, entregando diálogos afiados e atuações que alternam entre o cômico e o ameaçador. Kendrick faz de Stephanie uma figura inicialmente caricata, mas que aos poucos revela camadas mais sombrias. Já Lively se diverte ao máximo com uma personagem tão magnética quanto imprevisível, que brinca com os clichês da mulher fatal.
Ainda que a comparação com Garota Exemplar seja inevitável, Um Pequeno Favor segue por um caminho muito mais irreverente. Se há uma crítica ao ideal de feminilidade ou à rivalidade entre mães, ela está sempre acompanhada de um tom bem-humorado, quase cartunesco. O filme lembra também o universo de Big Little Lies, mas sem a mesma densidade emocional — o que não chega a ser um defeito, considerando sua proposta mais leve.
Feig, que veio de projetos como Caça-Fantasmas e Missão Madrinha de Casamento, parece estar em casa ao misturar gêneros. Seu olhar é mais gentil do que sarcástico, o que pode decepcionar quem espera uma crítica mais ácida aos privilégios e dissimulações do subúrbio abastado. Ainda assim, ele conduz a narrativa com ritmo e estilo, mesmo quando o roteiro se mostra mais confuso do que complexo.

É verdade que o filme patina um pouco no segundo ato, quando precisa sustentar o mistério e fazer suas reviravoltas parecerem plausíveis. Há momentos em que tudo parece exagerado demais para ser levado a sério — mas talvez esse seja justamente o ponto. O humor do filme está nos excessos: em retratos nus pendurados na sala, em segredos do passado cada vez mais improváveis e em perseguições que flertam com o ridículo.
No fim das contas, Um Pequeno Favor é uma brincadeira estilosa com os clichês do thriller doméstico. É um filme que sabe rir de si mesmo, que não teme parecer tolo e que entrega duas performances centrais memoráveis. Não vai agradar a quem busca um suspense mais cerebral, mas para quem aceita uma dose generosa de ironia com seu mistério, o favor aqui é mais que bem-vindo.




