D. J. Caruso entrega em Virgem Maria um épico bíblico que, embora ambicioso, se perde em sua abordagem literal e previsível. A narrativa pretende explorar a vida de Maria de Nazaré desde a infância até o nascimento de Jesus, mas acaba se limitando a uma sucessão de cenas esteticamente artificiais e emocionalmente vazias, deixando de capturar a profundidade de sua protagonista.

Os problemas já aparecem nas escolhas estilísticas. Sequências em câmera lenta e cortes abruptos buscam evocar um ar de solenidade, mas falham em sustentar a gravidade da história. Em uma cena particularmente desconexa, José (Ido Tako) enfrenta Satanás (Eamon Farren) com uma espada, apenas para o filme cortar abruptamente para o nascimento de Jesus, sem qualquer explicação sobre o desfecho do confronto. Essa abordagem superficial enfraquece a tensão dramática e reforça a sensação de que o filme não confia na inteligência do público.

No papel de Maria, Noa Cohen é relegada a uma performance que se limita a poses melancólicas e olhares vazios. A relação entre Maria e José também carece de desenvolvimento; um encontro idealizado é suficiente para justificar o casamento, mas não para convencer o espectador da profundidade desse vínculo. Quando Maria escolhe o nome de Jesus para seu filho, o momento soa mais como uma piscadela ao público do que como uma escolha carregada de significado emocional.

A tentativa de conectar a narrativa bíblica a temas contemporâneos, como o abuso de poder representado por Herodes (Anthony Hopkins), é válida, mas mal executada. O filme sugere uma resignação passiva ao sofrimento enquanto se espera um salvador, uma mensagem que, longe de inspirar, reforça a apatia frente à injustiça. Em vez de explorar o potencial revolucionário da fé, Virgem Maria reforça estereótipos que limitam sua relevância para o público atual.

O elenco, embora talentoso, pouco pode fazer com o roteiro limitado e a direção sem inspiração. Anthony Hopkins entrega uma performance competente como Herodes, mas sua presença é ofuscada pela superficialidade do enredo. A ausência de nuances nos personagens torna difícil se conectar com suas jornadas, deixando o espectador como um mero observador de uma narrativa previsível.

Ainda que o filme tenha como objetivo honrar a figura de Maria, ele falha em explorar sua humanidade e complexidade. Momentos que poderiam destacar sua coragem e fé são tratados de forma didática, deixando de lado a oportunidade de mostrar Maria como uma figura multifacetada, além do papel já conhecido de mãe de Jesus.

No final, Virgem Maria decepciona ao tratar um tema tão rico de forma rasa e desinteressante. Apesar de suas pretensões épicas, o filme não transcende os clichês do gênero, entregando um produto que dificilmente chamará atenção de cristãos devotos ou com aqueles em busca de uma perspectiva mais reflexiva e artística. Uma história tão poderosa merecia uma abordagem mais cuidadosa e inspirada.