Você é o Universo

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"Você é o Universo": Sozinho no espaço, acompanhado no sentimento

Você é o Universo parte de um ponto já conhecido no cinema: o astronauta solitário vagando pelo espaço após um desastre. Mas o que o filme do ucraniano Pavlo Ostrikov faz com essa premissa vai muito além do habitual. Em vez de apostar na tensão, na depressão ou no heroísmo, a narrativa se ancora em algo mais íntimo: a capacidade humana de se conectar, mesmo diante do fim do mundo. O resultado é uma ficção científica romântica, melancólica e surpreendentemente real em seus sentimentos.

Logo nos primeiros minutos, acompanhamos Andriy Melnyk, um astronauta ucraniano encarregado de transportar lixo nuclear para Calisto. Ele parece estar em uma missão rotineira, meio entediado, meio satisfeito, com o robô Maxim como único companheiro. Mas quando a Terra simplesmente explode, o que era cotidiano se torna absurdo. É aí que Você é o Universo mostra seu valor: mesmo diante da tragédia, há espaço para humor, surpresa e, sim, esperança.

O filme evita explicações científicas ou detalhamentos técnicos sobre a destruição do planeta. E isso joga a favor da experiência. Em vez de se prender à lógica da ficção científica tradicional, o longa aposta em sensações e em relações. Andriy, o “último homem vivo”, passa por uma montanha-russa emocional que mistura aceitação, alívio e um toque de vaidade: afinal, quem mais pode se autoproclamar “Capitão Galáxia” com propriedade?

A virada acontece quando ele, por acaso, recebe uma resposta à sua mensagem debochada. Do outro lado da galáxia, em Saturno, Catherine, uma astronauta francesa, responde. Começa então uma troca de mensagens que evolui para algo muito maior. As conversas entre eles, traduzidas por um programa automático, vão de bobagens triviais a reflexões existenciais. E por mais incrível que pareça, a química entre os dois é real — mesmo que ela seja apenas uma voz.

Grande parte do mérito está no carisma de Volodymyr Kravchuk, que interpreta Andriy. Ele é desajeitado, engraçado, vulnerável. Em cena, dança sozinho, bebe demais, faz piadas ruins e ainda assim transmite verdade. Seu desempenho faz com que a solidão nunca pareça vazia. Ao contrário, torna-se um palco para os pequenos prazeres que restaram — e para o amor que começa a surgir, mesmo que de forma inusitada.

Ao desenvolver a relação entre Andriy e Catherine, Você é o Universo não cai em armadilhas. O roteiro evita forçar a barra no romantismo, apostando em desencontros, inseguranças e até mal-entendidos linguísticos. E quando o amor finalmente floresce, o faz com ternura e sinceridade. O fato de Catherine não ter corpo — sendo apenas uma voz em meio ao silêncio cósmico — não diminui o impacto da conexão entre eles. Pelo contrário: a intensifica.

Em meio a tantas distopias e épicos espaciais grandiosos, Você é o Universo chama atenção por sua delicadeza. É uma história pequena em escala, mas imensa em sentimento. Um lembrete de que, mesmo depois do fim do mundo, ainda podemos nos surpreender, rir, amar — e dançar, mesmo sem nenhuma plateia.

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