Os filmes com temáticas étnicas tendem a mostrar sempre o melhor e o pior de cada cultura e quando se fala da cultura indiana, o tema que não pode faltar é dos casamentos arranjados. De Raj do Big Bang Theory até Devi de Never Have I Ever, a questão é sempre o centro de todo dilema familiar entre pais que precisam assegurar um futuro promissor para os filhos e os filhos que querem sempre escapar desse destino pré-estabelecido.
Evil Eye, faz parte do especial de terror da Blumhouse em parceria com a Amazon Prime Video e conta a história de Usha, interpretada pela ótima Sarita Shoudhury (Jessica Jones, Little Fires Everywhere), uma mãe superprotetora que pressiona a filha Pallavi (Sunita Mani) a seguir o caminho do casamento e não ficar solteira. Pallavi por sua vez tende a acatar as escolhas de sua mãe, afinal essa é a dinâmica mais codependente possível, e relações como essa tendem a ser baseadas em chantagens, dramas e abuso que se destacam no lugar do amor incondicional. O que a filha não sabe, é que além dessa obsessão, Usha esconde um passado traumático, onde quase foi morta por um ex-namorado que a perseguia constantemente e usa sua religião para afastar o mau olhado através da imagem icônica do amuleto que afasta os mal intencionados.
O simbolismo entra em cheque quando Pavalli começa a namorar o indiano Sandeep (Omar Maskati), um homem que preenche todos os requisitos da mãe como um pretendente digno, mas que passa a ser alvo da superstição de Usha ao acreditar que Sandeep é a reencarnação do cara que tentou matá-la no passado. Nessa hora, ainda que algumas coisas façam sentido pela forma como o roteiro leva essa loucura da mãe, faz também com que as tradições se quebrem no seu desfecho e busca a redenção entre a relação de mãe e filha que, estranhamente, gira em torno de figuras masculinas. A essa altura, o personagem mais interessante do filme automaticamente passa a ser Pavalli, que além de ter um carisma ímpar na tela, tem as melhores reações possíveis e chega até rir da cara da mãe na cena mais reveladora. O altruísmo de Usha em comandar a vida da filha, gera uma revolta esperada e a entrega ainda mais profunda e apressada no romance com o talvez vilão da história, que mantém sua aura misteriosa, mas perde credibilidade quando tenta ser agressivo ou reativo demais.
O trauma, o controle e a superstição são os pontos que ligam todo o roteiro e justificam bem todas as suas demandas de competição e rivalidade entre mãe e filha, porém assim como os outros filmes da antologia, a novidade passa longe das telas e o que vemos é um filme bem executado, mas que desperdiça potencial criativo por se encaixar num padrão, seja dos estereótipos indianos, seja do suspense.