Lamparina da Aurora

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O nacional "Lamparina da Aurora" mescla poesia com cinema

Frederico Machado (O Signo das Tetas) é um diretor de cinema brasileiro que desponta no cenário nacional com produções únicas e inteligentes. Em Lamparina da Aurora, Frederico demonstrou uma apurada sensibilidade artística ao manipular o tempo com maestria. Como em um relógio, onde cada peça tem seu propósito de ser, o ritmo do filme também é pensado a cada cena. É como uma dança. Existe repouso e existe o movimento.

O filme conta a história de um casal de idosos que vive em silêncio em uma fazenda, isolados da sociedade, presos em um tempo não identificado. A paz é perturbada quando um homem jovem passa a frequentar a casa dos dois. A relação entre os três é repleta de mistérios e de conflitos. Os personagens não se comunicam e se movem em um ritmo dormente. O elemento verbal fica por conta de um narrador poeta, que surge de forma pontual durante a trama.

O roteiro é bastante interessante, mas o filme não é algo fácil de se absorver. Lamparina da Aurora vai contra o chamado cinema de mercado. A escolha de optar pela imagem em detrimento do som, proporcionou o surgimento de um ambiente que fica entre a realidade e o onírico. As imagens não contam, sugerem. Elas não demonstram, apontam. O cinema de Frederico Machado é poético.

A fotografia é caprichada. Todos sabem a dificuldade que é filmar em ambientes noturnos, mas Frederico aproveitou as sombras como ninguém. O contraste entre luz e escuro oferece textura e significado. Quando esse jogo de sombras é erguido junto com as personagens, temos narrativa e temos emoções. O som é outro elemento chave no longa. Ouso dizer que o “silêncio” comunica mais que o próprio narrador.

Quem prestigiar o filme, aconselho estar de mente aberta e livre de amarras criadas pelo cinema tradicional americano. Lamparina da Aurora pede uma postura contemplativa do público, que em troca oferece um espetáculo único de imagens e sensações.

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