Um Toque de Classe

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"Um Toque de Classe": Amor à moda adulta

Um Toque de Classe é uma comédia romântica que desafia as expectativas do gênero ao se concentrar em personagens maduros, imperfeitos e extremamente humanos. Dirigido por Melvin Frank, o filme se sustenta na química irresistível entre Glenda Jackson e George Segal, que vivem uma relação extraconjugal cheia de contratempos, risos e dilemas morais. O charme está justamente em não transformar o romance em conto de fadas, mas sim em um jogo de desejos, frustrações e ironias bem adultas.

Steven Blackburn (Segal) é um executivo americano vivendo confortavelmente com esposa e filhos em Londres. Vicki Allessio (Jackson), uma designer recém-divorciada, não busca grandes compromissos. Quando se encontram por acaso e sentem uma atração mútua, o caminho parece claro: um fim de semana sem culpas, longe de tudo, na ensolarada Málaga. Mas o que deveria ser uma escapada leve e despreocupada acaba se revelando uma comédia de erros digna de um bom vaudeville.

O roteiro engenhoso transforma situações aparentemente banais em verdadeiros desastres cômicos. Desde a presença inesperada de um conhecido no voo até os malabarismos logísticos de Steven para manter o caso em segredo, tudo contribui para um ritmo dinâmico, que mescla humor com diálogos afiados. De volta a Londres, a farsa continua, e o que começou como um caso casual vai ganhando camadas emocionais mais complexas.

Glenda Jackson surpreende ao abandonar os papéis densos que marcaram sua carreira até então, como em Mulheres Apaixonadas ou Domingo Maldito, e se jogar com vigor em uma comédia espirituosa. Sua Vicki é inteligente, sarcástica, encantadora e totalmente consciente de seus desejos. George Segal, experiente em papéis cômicos como em A Coruja e a Gatinha, contracena com ela com precisão e leveza, criando um casal cuja tensão romântica e cômica se sustenta até o último ato.

Apesar do tom leve, Um Toque de Classe toca em questões relevantes para seu tempo — e ainda atuais — como o desgaste do casamento, a busca por liberdade emocional e sexual, e o medo de compromissos reais, mesmo quando o amor parece estar à espreita. O título não é apenas um comentário sobre o estilo ou elegância da produção, mas também sobre a maturidade com que trata seus temas.

Tecnicamente, o filme aproveita bem suas locações, especialmente na Espanha, com cenários ensolarados que contrastam com a rigidez londrina. A trilha sonora inclui a canção indicada ao Oscar, “All That Love Went to Waste”, que reforça o tom agridoce da história. E ainda que o diretor Melvin Frank não tenha sido lembrado pela Academia, o filme foi indicado ao Oscar de Melhor Filme e rendeu a Glenda Jackson sua segunda estatueta de Melhor Atriz.

Um Toque de Classe permanece como uma joia entre as comédias românticas da década de 1970: espirituosa, elegante, e com um olhar honesto sobre as imperfeições do amor adulto. Uma combinação rara de sofisticação e coração, que faz jus ao nome — com classe, sim, mas também com alma.

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