A Grande Ilusão

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“A Grande Ilusão” não perdeu nada de seu poder

Não é errado dizer que muitos dos filmes feitos durante as décadas de 1930, 1940 e 1950 perderam o impacto ao longo dos anos. Muitas mudanças culturais tiraram a relevância deles, fazendo-os parecer ingênuos. É uma premissa que não se aplica com “A Grande Ilusão”, ganhador do Oscar em 1950. Ele não apenas resistiu ao tempo, mas seu conteúdo é tão desconfortável e relevante hoje quanto era no dia em que o filme estreou.

Basta prestar atenção às notícias para perceber que a política nunca foi tão desagradável e suja como hoje. A única diferença hoje é que cada palavra, mentira, difamação e tentativa de desinformação é registrada e divulgada para o mundo todo. Mas os mecanismos para se ganhar uma eleição são praticamente os mesmos do que quando o personagem principal de “A Grande Ilusão” embarcou na sua meteórica ascensão política. Se não fosse pelas imagens em preto e branco e pela linguagem ocasionalmente “antiquada”, poderíamos supor que este filme foi uma tentativa recente de mostrar as peripécias políticas de hoje em uma corrida governamental da era da Depressão.

No filme, o pacato advogado Willie Stark (Broderick Crawford) começa a ganhar fama por defender os mais pobres. Com reputação de homem honesto e apoiado pelas massas graças ao seu jeito caipira, o jurista popular passa a almejar novos objetivos, ingressando na política. Inicialmente subestimado, Stark começa a ganhar poder e se tornar tão corrupto quanto aqueles que um dia criticou.

Embora os eventos na tela ocorram durante os anos 1930 e o filme tenha sido feito nos anos 1940, “A Grande Ilusão” não precisa de atualização nem para parecer atual nos dias de hoje. Nenhum dos truques ou estratagemas sujos do seu protagonista são difíceis de acreditar – vivemos escândalos políticos com conotações mais sombrias do que as vistas no longa.

Um quarto de século depois da estreia de “A Grande Ilusão”, Watergate aconteceu, e a América começou a compreender a natureza generalizada da corrupção política. Há uma questão antiga sobre o fim que justifica os meios, e é isso “A Grande Ilusão” indaga ao longo de sua projeção.

O filme continua merecedor da honra de fazer parte do hall de ganhadores do Oscar. A contínua relevância do conteúdo fica evidente na decisão de tentar uma refilmagem do material em 2006. O fracasso da nova versão sequer lança sombra sobre o sucesso do seu antecessor (mesmo com o novo filme lotado de estrelas no elenco).

“A Grande Ilusão”, de 1949, com seu roteiro simples, atuação sólida e direção intransigente, continua sendo ao mesmo tempo um drama convincente e um conto de advertência – cuja mensagem não foi ouvida em mais de meio século. O filme não perdeu nada de seu poder e é uma escolha mais digna para ser visto por um público moderno do que a falha tentativa de 2006.

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