A Lista de Schindler

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"A Lista de Schindler" nos toca profundamente em uma experiência cinematográfica transcendente

Há numerosos documentários e produções focados no Holocausto. Por isso, ao decidir filmar “A Lista de Schindler”, o diretor Steven Spielberg escolhe uma tarefa imponente. A sua visão precisava ser diferente da visão dos cineastas que o precederam, mas o produto final tinha de permanecer fiel às imagens inesquecíveis que representam o legado de seis milhões de judeus massacrados. Ao assistir o filme o espectador testemunha o sucesso de Spielberg.

O filme começa em setembro de 1939 em Cracóvia, na Polônia, com a comunidade judaica sob crescente pressão dos nazistas. Nesse tumulto surge Oskar Schindler (Liam Neeson), um empresário nazista interessado em obter apoio judeu para uma fábrica que deseja construir. Ele faz contato com Itzhak Stern (Ben Kingsley), um contador, para acertar questões financeiras.

Chega Março de 1941. A comunidade judaica de Cracóvia foi forçada a viver no “gueto”, onde o dinheiro não tem mais sentido. Vários idosos concordam em investir na fábrica da Schindler e nasce a DEF (Deutsche Emailwarenfabrik) – local onde são fabricadas grandes quantidades de panelas. Para fazer o trabalho, Schindler contrata judeus (porque são mais baratos que os poloneses), e o exército alemão torna-se o seu maior cliente.

Quando mostra Março de 1943. As intenções da Alemanha para com os judeus não são mais um segredo. O Gueto é “liquidado”, com os sobreviventes sendo conduzidos para os Campos de Concentração de Plaszóvia. Muitos são executados e outros ainda são despachados de trem para nunca mais voltarem. Durante esse tempo, Schindler consegue cair nas boas graças do comandante local, Amon Goeth (Ralph Fiennes), um nazista que mata judeus por esporte. Usando seu relacionamento com Goeth, Schindler começa a fazer campanha para ajudar os judeus, salvando homens, mulheres e crianças da morte certa.

Spielberg opta por filmar em preto e branco, e é impossível contestar sua escolha. O diretor de fotografia Janusz Kaminski faz o uso eficaz de sombra e luz. A cena de abertura é colorida, assim como a sequência final. Há apenas, no meio do filme, momentos em que vemos aluma cor, e há um impacto inegável neles.

É claro que as imagens do Holocausto são sombrias. Spielberg não poupa seu público quando se trata de violência ou dos fatores desumanizantes envolvidos em tais eventos. Afinal, os judeus eram vistos como “vermes”. E “A Lista de Schindler’ está repleto de momentos aterrorizantes que mostram isso.

A atuação é excelente de maneira uniforme. O Schindler de Liam Neeson é mostrado em toda a sua complexidade, e sua transformação é interpretada com maestria. Esta não é uma mudança repentina de filosofia, mas uma questão de consciência que lentamente surge no homem. Com um apurado sentido do caráter de Schindler, Neeson retrata a metamorfose de um empresário egocêntrico em um messias obstinado.

Ben Kingsley, cujo Gandhi fascinou o público anos antes, tem o papel mais discreto do filme – aquele em que ele atua com uma sinceridade inigualável. Enquanto isso o Goeth de Ralph Fiennes surpreende com seu retrato intrincado e selvagem do comandante nazista, um homem fascinado pelo poder e pelo assassinato. Goeth tem uma rara habilidade de hipnotizar e repelir, e esta é uma das melhores performances da carreira de Fiennes.

Apesar do tema terrível, este filme é essencialmente sobre a descoberta da esperança e dignidade no meio de uma tragédia monstruosa. A história dos sacrifícios de Oskar Schindler pelos judeus diferencia este drama de outros dramas do Holocausto. Intransigente em seu retrato do bem, do mal e de todos os tons de cinza entre eles, “A Lista de Schindler” oferece uma visão clara da natureza humana: ódio, ganância, luxúria, inveja, raiva e, o mais importante de tudo, empatia e amor.

“A Lista de Schindler” nos toca tão profundamente, que a catarse oferedida por ele tem um poder que poucos – ou nenhum – outro momento da história do cinema pode igualar. E é isso que estabelece o longa como uma experiência cinematográfica transcendente.

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