A Noviça Rebelde

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“A Noviça Rebelde”: o poder duradouro de um clássico amado

A Noviça Rebelde não é o melhor filme de todos os tempos (obviamente). Com seu roteiro implausível, algumas atuações duvidosas e pieguice, ele tem todas as características de algo que, apesar de seu sucesso inicial, seria esquecido com o passar do tempo. No entanto, todos esses anos após sua estreia, o filme não apenas é lembrado, mas também se estabeleceu no terceiro lugar em arrecadação de bilheteria de todos os tempos (com os devidos ajustes de inflação). Por muitos anos, o filme foi reprisado na TV, como uma aposta certeira de audiência. Na era do home vídeo, tornou-se um best-seller, com novos lançamentos a cada 5 ou 10 anos (em seus aniversários). Carrega o rótulo de “clássico amado” – algo que ninguém, nem mesmo o crítico mais rabugento, poderá contestar.

A versão cinematográfica de A Noviça Rebelde foi uma adaptação do show da Broadway de Rogers & Hammerstein, que estreou em 1959 e era protagonizada por Mary Martin. Embora os produtores quisessem William Wyler para a direção, o envolvimento de Wyler terminou no início da pré-produção e as rédeas foram entregues a Robert Wise. Reunido com seu roteirista de Amor, Sublime Amor, Ernest Lehman, Wise abre o filme de forma estonteante com filmagens em locações grandiosas em Salzburgo, na Áustria. Através do formato de captura de 70 mm ele conseguiu algumas imagens espetaculares do local. Além disso, ele também tentou diminuir um pouco do sentimentalismo e trazer elementos mais fundamentados ao longa, comparado com o espetáculo original (segundo suas entrevistas da época).

Vagamente baseado na vida dos cantores Von Trapp, uma família de artistas folk que alcançaram destaque mundial antes, durante e depois da Segunda Guerra Mundial, o filme ficcionaliza tudo, exceto os detalhes básicos do registro histórico. Isso causou um conflito entre Wise a verdade Maria Von Trapp (interpretada por Julie Andrews no filme), que queria que houvesse “mais verdade” no filme. Wise recusou, dizendo que estava fazendo o filme que queria e, como ela havia vendido os direitos, ela não tinha direito sobre como a história seria contada.

Olhar para A Noviça Rebelde minuciosamente hoje, revela um filme excessivamente longo, cheio de artificialidade e muita água com açúcar. Deixando de lado as atuações de Julie Andrews e Richard Haydn (que emprega um humor seco ao interpretar o empresário da família Von Trapp, Max Detweiler), a atuação varia de indiferente (Christopher Plummer) a estranha e pouco convincente (a maioria das crianças).

A reação crítica na época do lançamento foi dividida. Embora alguns críticos tenham elogiado o filme, muitos foram contundentes. Uma delas dizia: “Fomos transformados em imbecis emocionais quando nos ouvimos cantarolando as canções doentias e boas…”

A Noviça Rebelde pretende ser uma obra para sentir-se bem – que deixa de lado considerações de lógica e inteligência em uma maré de exuberância que culmina com uma euforia emocional. As canções, que se tornaram parte do inconsciente coletivo, são imediatamente reconhecíveis e, como um crítico reconheceu sarcasticamente, simples em sua natureza. E claro, há Julie Andrews. Chegando a A Noviça Rebelde vinda de Mary Poppins (que ainda não havia sido lançado), Andrews mergulhou no papel. Sua disposição alegre, voz poderosa e puro carisma dominam o filme e, pelo menos durante as sequências musicais, dissipam qualquer cinismo. Christopher Plummer é outra questão. Ele notoriamente não gostou do filme a ponto de se referir a ele com desdém, mas também dizer que ele tinha que estar bêbado para filmar suas cenas. Isso fica evidente em sua atuação, que não representa um destaque na carreira.

Não é difícil entender o apelo do filme durante seus primeiros anos, nem é surpreendente que ele tenha conquistado cinco Oscars, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor. A Noviça Rebelde representou um estandarte de serenidade durante um período de convulsão social. Lançado 18 meses após o assassinato de JFK e no meio da turbulência dos direitos civis, oferecia escapismo na sua forma mais pura. Ao trazer sentimentos tão positivos naqueles que o viram durante a década de 1960, garantiu que o filme ficasse gravado na cabeça de uma geração inteira.

Embora eu esteja mais para o lado de quem não morre de amores pelo filme, percebo seus pontos fortes. A cinematografia é cativante, as músicas são divertidas e Andrews merece os elogios e a adoração que recebeu ao longo dos anos pelo papel. Quanto ao filme como um todo… basta dizer que seu poder é puramente emocional. Como muitos que dependem da nostalgia e da manipulação para agradar ao público, ele só funciona se você estiver envolvido em sua magia. Aqueles que não estiverem presos nessa teia reconhecerão as manipulações. Para a maioria do público, A Noviça Rebelde é eficaz e comovente – o seu poder na bilheteria e sua popularidade duradoura não devem e nem podem ser contestados.

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