O aviso de “Alguns desses fatos aconteceram”, nos primeiros segundos de Trapaça, de David O. Russel, já promete que as próximas duas horas de filme vão ser repletas de fatos que por mais que pareçam exagerados, podem muito bem acontecer na vida real. E de fato, o longa tem sequências de situações dignas para personagens que levam sua vida trapaceando para se dar bem.
Um Christian Bale quase irreconhecível cola maços de cabelo numa careca acompanhada de um óculos grande e escuro. O homem em questão é Irving Rosenfeld, um trapaceiro de mão cheia que atua juntamente com sua sócia e amante Sydney, uma mulher ambiciosa, mas também extremamente frágil. Ambos dão golpes grandes, e mesmo que tomem precauções, acabam sendo pegos por um bipolar agente do FBI que lhes dá a opção de ajudá-lo a realizar uma mega operação e desmascarar a máfia de corrupção do país. Dois trapaceiros e um agente do FBI, que é basicamente influenciado pelos seus sentimentos e emoções, dão tom ao enredo de Trapaça, que tenta deixar claro que qualquer individuo precisa fazer algo para sobreviver nesse mundo.
Trapaça é um dos longas mais aguardados do ano, principalmente pelo fato de David O. Russel vir de uma sequência de longas premiados. O Vencedor em 2010 que arrematou elogios e estatueta, e a adaptação para O Lado Bom da Vida, com lisonjas para os papéis de Jennifer Lawrence – que levou o Oscar na Ocasião – e Bradley Cooper. Apostando na fórmula dos dois últimos trabalhos, Russel junta o casal do mais recente longa e Christian Bale para fazer um filme pretensioso, tanto em aspectos estéticos quanto narrativos.
Apesar de contar com um bom elenco e realmente ter méritos quanto ao figurino, o roteiro de Trapaça é em geral cansativo, em muitos momentos leva tempo para sair de determinadas situações. Há uma insistência – que não é totalmente ruim – do diretor em manter uma estética bem setentista. A câmera ora vai e vem nas feições dos personagens com a intenção de dar mais dramaticidade para as cenas, e estas são embaladas numa trilha sonora que praticamente não erra em nenhum momento em que está tocando.
Em se tratando de trapaça, David O. Russel faz isso muito bem. Com um figurino glamouroso, mulheres sexies e uma narrativa embalada por exageros o diretor consegue disfarçar um enredo basicamente fraco e simples fazendo uma excelente direção de atores. O diretor é bom no assunto, em O Lado Bom da Vida pega um enredo até bobo de comédia romântica, aplica personalidades peculiares aos personagens – e próximas do espectador – e entrega um longa que consegue convencer inclusive a crítica.
E não é diferente em Trapaça, David O. Russel não traz nada de novo ao cinema, arriscando com uma estética que remonta bastante aos filmes do Guy Ricthie, apostando nos personagens de Amy Adams, Jennifer Lawrence – que não é toda a cereja do bolo que a crítica aponta – Christian Bale e Bradley Copper e entrega ao espectador um longa que até diverte mas não chega nem perto da consistência de alguns de seus concorrentes ao Oscar de melhor filme. É esperar para ver.