Se alguém te perguntasse “o quanto você se pertence?”, como você imagina que seria a reposta? Quanto daquilo que compõem você é produto do seu meio, e quanto é apenas seu? A Outra Forma é uma animação distópica sobre pertencimento que chega para nos mostrar como as novidades reais ainda são possíveis de serem descobertas, e assistidas, no cinema.
Torna-se geométrico é o grande objetivo desta sociedade a qual somos apresentados logo nas primeiras cenas do longa. As pessoas se enquadram a força neste padrão de arestas e ângulos, com o único propósito de fazer parte do mundo paradisíaco que veem na lua, o grande satélite cúbico que orbita seu mundo. Dentre uma população inteira, um homem parece sentir que algo não é tão reto, certo e determinado como parece. Ele sente que algo dentro de si não cabe neste formato, e em meio a uma grande crise existencial, vai descobrir que não se encaixar talvez seja sua salvação.
Diego Guzmán não poderia ter acertado mais em sua estreia como diretor nesta parceria cinematográfica entre Brasil e Colômbia. Ele, que também roteirizou o filme, faz as escolhas certas para deixar o espectador (quase literalmente) grudado na tela esperando pela próxima cena. A trama é curiosa do início ao fim, com conexões e interpretações sobre a história sendo feitas quadro por quadro. Tudo que vemos é importante e está ali com uma finalidade específica, contribuindo com um pedacinho da ideia retratada.
É aqui que entra um imenso destaque para o design da história. O fato de ser uma animação liberta o filme, e justo este, que discute incessantemente o não se encaixar. E afinal, por que nos esforçamos tanto para seguir um padrão que lá no fundo do âmago sabemos que não foi feito para nós? A proposta de Guzmán, pode ser irreal e futurística quando olhamos para o filme, mas se torna absolutamente verdadeira, em plano, tempo e espaço, assim que contemplamos a quantos padrões estamos nos encaixando diariamente, a quantas peças estamos nos moldando para cumprir expectativas alheias.
Que ao final do filme, e de suas cinco merecidas estrelas, seja possível lembrar que o Paraíso não fica em um lugar impossível de respirar, mas sim dentro de nós mesmos, e que merecemos inflar nossos pulmões e encontrá-lo, em nossa verdadeira forma.