Em A Rosa Tatuada, a viúva Serafina Della Rose (Anna Magnani) se encontra aprisionada em sua dor e na memória de seu falecido marido. Vivendo uma vida de isolamento, ela se recusa a acreditar nas falhas de seu falecido esposo, uma obsessão que a leva a um estado de negação e possessividade. A trama, adaptada da peça de Tennessee Williams, revela a complexidade emocional de uma mulher imersa no luto, e sua relação com a filha Rosa (Marisa Pavan), que experimenta seu primeiro amor enquanto tenta entender a figura dominante e apaixonada de sua mãe.
Serafina é uma mulher forte, com uma vida marcada pelo sacrifício e pela paixão por um homem que ela idealiza como o grande amor de sua vida. Essa devoção cega à memória do marido a impede de perceber o próprio poder e desejo. Sua vida gira em torno da perda, e sua identidade é totalmente definida por sua relação com o marido, levando-a a negligenciar as necessidades emocionais e sexuais de sua filha. A atuação de Anna Magnani é arrebatadora, dando uma profundidade única à personagem, que não teme exibir sua vulnerabilidade e suas contradições internas.
O filme se passa em uma pequena cidade da costa da Flórida, onde Serafina vive com sua filha e se vê confrontada com a chegada de Alvaro (Burt Lancaster), um caminhoneiro que, sem querer, traz à tona o desejo reprimido de Serafina. Ele possui as características físicas que a lembram de seu falecido marido, despertando nela um turbilhão de emoções que ela havia tentado suprimir. O reencontro com sua própria sensualidade e desejos reprimidos é o ponto de virada da trama, pois Serafina finalmente precisa confrontar o luto que a impede de viver.
A narrativa explora a luta interna de Serafina entre o amor idealizado pelo falecido marido e a possibilidade de recomeçar sua vida emocional com alguém novo. No entanto, a personagem é extremamente relutante em aceitar que sua dor não precisa ser eterna, e sua relação com Alvaro se torna um campo de batalha onde a liberdade emocional é o prêmio. O relacionamento entre os dois, carregado de tensão e desejo, é uma metáfora para o processo de cura de Serafina, que não pode mais viver apenas em função de um passado que a impede de avançar.
A adaptação cinematográfica de Daniel Mann suaviza alguns dos aspectos mais audaciosos da peça original, especialmente no que diz respeito à sexualidade de Serafina. No palco, a paixão de Serafina é mais selvagem e impulsiva, mas no filme ela se torna mais controlada, refletindo uma visão mais convencional da moralidade da época. A crítica social de Tennessee Williams, que questiona os padrões rígidos da sociedade sobre o amor e o desejo, é diluída pela necessidade de agradar ao público conservador do cinema de Hollywood.
O desfecho de A Rosa Tatuada mostra Serafina finalmente aceitando a possibilidade de ser feliz novamente, ainda que com reservas. Ao longo do filme, sua transformação de uma mulher dominada pelo luto para uma pessoa que reconcilia sua paixão e suas inseguranças é tocante e realista. Apesar das modificações feitas na transição do palco para o cinema, a obra ainda mantém sua essência ao explorar o impacto da perda e o processo de reaproximação com o amor. A jornada de Serafina é um testemunho da luta pela liberdade emocional e da redenção através do amor.