Horas de Tormenta, dirigido por Herman Shumlin e adaptado da peça de Lillian Hellman, é um drama político ambientado nos anos 1940 que aborda a luta contra o fascismo através de uma narrativa intimista. O filme segue Kurt Muller (Paul Lukas), um engenheiro alemão antifascista, e sua esposa americana, Sara (Bette Davis), que retornam aos Estados Unidos após 17 anos na Europa, acompanhados de seus três filhos. Porém, mesmo em solo americano, os ecos da guerra e do nazismo encontram a família.
O enredo ganha complexidade com a presença do conde romeno Teck de Brancovis (George Coulouris), um oportunista que suspeita do envolvimento de Kurt com a resistência. A tensão aumenta à medida que o conde tenta extorquir Kurt, colocando em risco não apenas sua missão, mas também sua família. A história se desdobra em uma série de dilemas éticos e sacrifícios, explorando as consequências de lutar por um ideal maior em tempos de opressão.
Paul Lukas, que reprisou seu papel da Broadway, entrega uma performance poderosa como Kurt, transmitindo com intensidade as camadas de um homem dividido entre seu dever moral e seu amor pela família. A atuação lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator, em um ano competitivo que incluiu Humphrey Bogart em Casablanca. Bette Davis, apesar de seu papel mais discreto como Sara, traz uma presença sólida, refletindo a força silenciosa de uma mulher que apoia o marido enquanto enfrenta suas próprias perdas.
O roteiro, assinado por Dashiell Hammett, equilibra bem o pessoal e o político, embora a direção de Shumlin revele as origens teatrais do material. A atmosfera é enriquecida pela trilha sonora de Max Steiner, que adiciona camadas emocionais à narrativa, e pela fotografia cuidadosa de Merritt Gerstad. Apesar de alguns elementos previsíveis e personagens estereotipados, o filme encontra força em sua relevância histórica e no retrato do impacto do fascismo em indivíduos comuns.
A cena de despedida entre Kurt e seu filho mais velho, Joshua, é um dos momentos mais emocionantes do filme, destacando o legado de coragem que o pai deixa para a próxima geração. A narrativa reforça a ideia de que a resistência contra a tirania exige sacrifícios pessoais, mas também inspira um senso de dever que transcende o individual.
Horas de Tormenta não é apenas um produto de seu tempo, mas também uma reflexão sobre a resiliência humana diante de adversidades extremas. Apesar de algumas limitações cinematográficas, a obra permanece relevante como um testemunho da luta contra a opressão e da importância de não sucumbir à indiferença em tempos de crise.