A Sala dos Professores

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“A Sala dos Professores” é um instigante thriller sobre o cotidiano de uma escola alemã.

Que lugar é a sala dos professores dentro de  uma escola? Enquanto estudantes, imaginamos os professores se alimentando, comentando os nossos comportamentos em sala de aula, fofocando e planejando aulas. Enquanto professoras e professores, temos que lidar, muitas vezes, com a precariedade dos espaços e dos salários, o cansaço presente nas conversas e uma série de situações emblemáticas que misturam a vida adulta com a performance profissional. Pessoas que ensinam passam mais tempo dentro de uma escola do que dentro de suas próprias casas, e o espaço escolar acaba reproduzindo várias situações da vida em sociedade. Em A Sala dos Professores, realizado pelo alemão İlker Çatak, uma situação corriqueira mal resolvida se transforma em um enredo complexo que, em muitos momentos, caminha para um thriller onde a tensão predomina.

Acompanhamos Carla Nowak (Leonie Benesch), uma professora de ensino fundamental em algum lugar da Alemanha contemporânea. Ela ensina matemática e esportes, é uma professora jovem, animada e idealista. Carla presta muita atenção em seus alunos pré-adolescentes, estimula seus interesses e os campos que se destacam em sala, promove o diálogo e a tolerância. Mas, em uma dessas situações corriqueiras na escola, um dos alunos é acusado de furto, justamente uma criança de família imigrante e árabe. A própria Carla é polonesa e evita não falar alemão dentro da escola, comprovando esse tipo de tensão. A situação do furto desencadeia uma série de situações que caminham desde xenofobia, passando pelo burburinho dos achismos, até chegar à paranóia descontrolada. A professora percebe pequenas corrupções entre as pessoas que trabalham na escola e decide deixar a câmera do seu computador ligada em um determinado período. Acaba filmando um braço, vestindo uma camisa de manga comprida com um tecido de estampa específica, roubando dinheiro de dentro da sua carteira.

São muitas as perguntas em A Sala dos Professores. Qual é o lugar dessa professora idealista dentro de um microcosmos como é o da escola, onde uma uma espécie de sociedade é formada durante, pelo menos, 10 anos da formação de pessoas? Esse ambiente reproduz um país, como a Alemanha, com todo seu contexto político e econômico atual? Quais são os limites da ética embrenhada na moralidade de cada pessoa? Não sabemos se a escola é de ensino privado ou público, mas ao seguir o seu instinto de justiça, mostrando o vídeo à diretoria da escola, Carla acaba apontando para si o alvo de uma tentativa capenga de justiça que busca apenas encontrar culpados e não entender o complexo sistema que levou àquela situação.

Além de um roteiro – que İlker Çatak divide com Johannes Duncker – ao mesmo tempo conciso e labiríntico, a edição de Gesa Jäger consegue deixar que todo o drama pareça um suspense acompanhado em tempo real, sem muito respiro. Os ataques de pânico de Carla, ela saindo e entrando de salas, batendo portas; ou mesmo uma ótima cena em que pede para que os alunos gritem junto com ela, são filmados de muito perto e somos testemunhas que também vivem dentro desse ambiente, que se torna claustrofóbico. Aliás, todo o filme é rodado dentro da escola e não sabemos absolutamente nada da vida dessas pessoas – de qualquer idade ou função – fora daquele lugar, o que colabora na experiência de imersão das situações desenroladas.


A Sala dos Professores é um filme que se passa no sistema escolar alemão, mas que dá conta de pensarmos toda a lógica educacional que reproduz as tensões sociais e políticas nos níveis locais e globais, se pensarmos especialmente em um mundo conectado. Também, é um filme com uma narrativa instigante e tensa que nos permite pensar os níveis de gaslighting – sugestões de que alguém está enlouquecendo – que pessoas passam em ambientes de trabalho, apontando para as altas taxas de diagnósticos de doenças mentais atualmente.

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