A Última Sessão

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Uma luz que encanta em “A Última Sessão”

Em A Última Sessão, Pan Nalin entrega uma obra que é ao mesmo tempo nostálgica e vibrante, uma celebração à magia do cinema sob a ótica de um garoto em uma aldeia rural da Índia. Inspirado em sua própria infância, o diretor cria um universo onde a paixão por filmes se mistura à luta contra as transformações inevitáveis da tecnologia. O resultado é uma história que transcende barreiras culturais, ao mesmo tempo íntima e universal.

O protagonista Samay, interpretado magistralmente por Bhavin Rabari, é o centro do filme. Fascinado pela luz que emerge da cabine de projeção, o garoto transforma seu amor pelo cinema em um empreendimento criativo, inventando maneiras engenhosas de recriar as imagens que o encantam. A narrativa lembra os tons autobiográficos de Os Fabelmans, mas com um toque distinto: a realidade rural de Samay o obriga a improvisar e inovar, provando que a imaginação pode superar qualquer limitação material.

A ambientação em 2010, durante a transição do cinema analógico para o digital, dá um contexto melancólico à história. A relação entre Samay e Fazal, o projetista do cinema local, é o ponto alto emocional do longa. Em troca das delícias culinárias preparadas pela mãe de Samay, Fazal o introduz ao mundo mágico do 35mm, onde o garoto descobre as engrenagens do cinema tanto literalmente quanto metaforicamente. Essa parceria é retratada com uma doçura que nunca soa forçada, dando ao filme um charme irresistível.

Visualmente, A Última Sessão é deslumbrante. A direção de fotografia de Swapnil S. Sonawane explora texturas e cores com um detalhamento que torna cada cena um banquete visual. Desde as especiarias vibrantes na cozinha da mãe de Samay até os tons desbotados das paredes do cinema, cada quadro reflete a beleza do cotidiano. Essas escolhas estéticas fazem do filme não apenas uma homenagem ao cinema, mas também à vida simples e rica em significados.

A narrativa, porém, não é só luz e encanto. A resistência do pai de Samay ao cinema por questões culturais e a chegada do digital fazem os conflitos do longa aparecerem. A crítica ao impacto da modernização nas tradições não é óbvia ou didática, mas está presente na trama de forma natural. Isso é particularmente evidente em uma sequência surreal de desmontagem de projetores, que simboliza o fim de uma era de maneira silenciosa, mas poderosa.

Apesar de seu pano de fundo histórico, A Última Sessão não se limita a ensinar lições. É uma celebração da curiosidade, da resiliência e da amizade. O espírito indomável de Samay e a sua capacidade de transformar sucata em arte são um lembrete de que a criatividade é uma das nossas maiores dádivas. O filme captura tanto o lado sombrio quanto o luminoso da busca por sonhos, sem cair em sentimentalismos baratos.

Ao final, A Última Sessão é mais do que um tributo ao cinema; é uma celebração à capacidade de encontrar beleza e propósito mesmo nas circunstâncias mais adversas. Com sua narrativa cheia de alma e seu visual arrebatador, o filme se torna uma experiência memorável, um convite para redescobrir o impacto transformador que as histórias têm em nossas vidas.

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