A Vida de uma Mulher

Onde assistir
Uma jovem lida com a perda de ideais na adaptação de Guy de Maupassant, "A Vida de uma Mulher"

Engana-se quem pensa que o diretor Stéphane Brizé, de O Valor de um Homem, é um candidato improvável para filmar uma obra de Guy de Maupassant. A Vida de uma Mulher é um filme grandioso, não no sentido da palavra, mas sim nos pequenos detalhes.

Belamente fotografado por Antoine Héberlé (Paradise Now), o conto acompanha Jeanne (Judith Chemla, de Camille Outra Vez). Ela volta para casa após completar os estudos e passa a ajudar os zelosos pais nas tarefas do campo. Certo dia o visconde Julien de Lamare (Swann Arlaud, de Românticos Anônimos) aparece nas redondezas e logo conquista o coração da jovem, que, encantada, se casa e vai morar com ele. Conforme o tempo avança Julien se mostra infiel, avarento e nada companheiro, o que vai minando a alegria de viver da antes esperançosa Jeanne.

É uma pena que a distribuidora tenha escolhido por chamar a adaptação de A Vida de uma Mulher ao invés de A Vida apenas, como no original. Sim, trata-se de uma mulher, cuja posição é incontestadamente diferente de um homem, e a vida dela é grandiosa em seus pequenos traços, não merecendo ser reduzida por um qualificador de qualquer tipo. É claro que o tratamento de Brizé, em colaboração com Florence Vignon garante que a baronesa vivida por Chemla tenha uma profundidade emocional que garanta declarações ousadas.

Ao longo de A Vida de uma Mulher, o diretor brinca com o tempo, contrastando a luz do verão, quando as expectativas de Jeanne por uma vida calorosa se apresentam, com cenas de chuva cada vez mais frequentes quando há uma mudança em sua perspectiva.

Ao final da projeção podemos sentir como se tivéssemos assistido uma novela do século XIX que captura a profundidade do caráter de seus personagens. E embora a brincadeira de Brizé com o passado e o presente não deva estar presente na obra original, o recurso funciona como o equivalente cinematográfico de uma prosa descritiva rica, transmitindo profundidade e textura.

Os objetivos de Brizé são claros. Ele nos leva, através dos olhos de Jeanne para um otimismo feminino, que logo vira desilusão e posteriormente desespero. Isso torna a trajetória da personagem ainda mais insuportável enquanto nos relacionamos intimamente com ela.

A Vida de uma Mulher não agradará a todos, uma vez que não é um filme bem-humorado e não fornece a sensação de encerramento que estamos querendo, mas é, no entanto, uma adaptação totalmente envolvente de um clássico francês que retrata habilmente os problemas de uma vida ordinária. Maupassant ficaria orgulhoso!

Você também pode gostar...