Antônio Bandeira: O Poeta das Cores

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"Antônio Bandeira: O Poeta das Cores" apresenta um dos artistas abstracionistas brasileiros mais instigantes do século XX

Nascido no ano marcado pela Semana de Arte Moderna de São Paulo, o cearense Antônio Bandeira (1922-1967) foi um artista que conquistou algumas das principais coleções de arte mundo afora e ouso dizer que foi mais interessante que muitos tidos como modernos. No filme que leva seu nome, Antônio Bandeira: o poeta das cores, o diretor Joe Pimentel propõe traçar uma narrativa relevante de um artista muitas vezes esquecido da historiografia de arte brasileira. Mais ainda, a proposta começa com uma busca familiar sobre quem foi esse homem que passou boa parte da vida fora do Ceará. Porém, entrega um documentário didático que, quando começa a trazer questões mais, digamos, espinhosas (como raça e sexualidade), termina com apontamentos bastante comedidos.

O Poeta das Cores tem vários méritos, principalmente por trazer a trajetória do projeto estético de um artista profundamente interessado pela poesia das formas, cores e sentimentos. Mesmo começando com uma arte mais figurativa, e conhecendo de perto, em Paris, artistas que estavam se aventurando pelo abstracionismo, vamos conhecendo o interesse e o andamento de um projeto muito próprio de Antônio Bandeira. Acima de tudo, percebemos que o artista tinha um interesse em compreender que tipo de arte ele queria fazer. Uma das frases mais instigantes do filme é “eu nunca pinto quadros, tento fazer pintura”, na voz do ator Carlos Jaborandy, que narra trechos de textos escritos pelo próprio Bandeira.

Um dos grandes problemas de inconsistência de O Poeta das Cores é que no meio do caminho decide ser um documentário tradicional, fugindo da proposta inicial com o sobrinho, Francisco Bandeira, também artista, que abre o filme falando da busca pelo tio. A semelhança entre os dois é espantosa e quem assiste fica na ansiedade de se relacionar com esse artista a partir de alguém que se vê conectado para além dos laços consanguíneos. Porém, logo o filme descarta esse interesse e o sobrinho se torna só um dispositivo inicial, o que é compreensível quando sabemos que, infelizmente, um artista tão importante ainda é bastante desconhecido do grande público.

Dentro do que acaba executando, Antônio Bandeira: O Poeta das Cores se destaca por trazer, por exemplo, imagens (e filmagens!) do artista que são realmente incríveis. Bandeira foi uma pessoa que transitou por cenários de arte da Europa e do Brasil, trocou cartas com grandes escritores e parecia uma pessoa que zelava pela sua própria performance, sempre muito bem alinhado e com olhar sedutor. É uma delícia ver um homem nitidamente não europeu, negro com traços indígenas, passeando por grandes salões de arte pelo Brasil e mundo. Por isso mesmo, é uma pena que o filme decida deixar de lado todas as controvérsias e dificuldades de ser um artista racializado num mundo tão embranquecido como o da arte naquela primeira metade do século XX.

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