No subúrbio da cidade de Niterói, no final dos anos 1990, duas garotas de 13 anos andam de patins pelas ruas e depois mergulham no mar. O que parece corriqueiro não é, devido ao fato de uma das meninas ser transexual.
A amizade entre Rebeca (Milena Pinheiro) e Mika (Milena Gerassi) é o tema principal de Avenida Beira-mar, filme dirigido por Maju de Paiva e Bernardo Florim.
Após o divórcio dos pais, Rebeca muda-se com a mãe Marta (Andréa Beltrão) para Piratininga. Devido aos furtos na região do bairro, Rebeca passa o tempo depois da escola sozinha em casa e só vê a rua, e quem passa por ela, por cima do muro. Essa rotina é quebrada quando ela conhece Mika, uma menina que invade casas e furta objetos como sutiãs e uniformes escolares femininos. Rebeca logo percebe a hostilidade das pessoas em relação à Mika, com episódios de violência de rapazes na rua, a sugestão da vizinha de que Mika não é uma boa companhia e pichações no muro. O jeito de Mika, cujo nome de batismo é João Pedro, não é compreendido e aceito pelos seus pais, principalmente por sua mãe (Isabel Teixeira), e um dia a menina é obrigada a cortar os cabelos. Mika desaparece depois desse episódio e os acontecimentos que seguem põem à prova a amizade e a lealdade entre as duas adolescentes.
O filme explora de forma muito bonita as sutilezas da relação entre mãe e filha de Rebeca e Marta: a preocupação da menina com a saúde da mãe, as marcas do divórcio dos pais em Rebeca, o preconceito das pessoas que comentam sobre a filha negra não ser parecida com a mãe, que é branca.
Entretanto, senti falta de um olhar mais atento para Mika e para a relação dela com os pais, especialmente a mãe, interpretada de forma brilhante por Isabel Teixeira. Mika, apesar de ter apenas 13 anos, é apresentada como alguém que parece muitíssimo segura de si. Seria interessante saber mais sobre as possíveis dúvidas dessa personagem complexa e da relação conflituosa de amor e incompreensão entre ela e sua família.