Babygirl

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Desejo e destruição no thriller erótico “Babygirl”

Babygirl, dirigido por Halina Reijn, revisita o gênero do thriller erótico com uma abordagem contemporânea e intensa. Inspirado por clássicos dos anos 1980 e 1990, como Atração Fatal e Instinto Selvagem, o filme explora as dinâmicas de poder e desejo entre dois personagens imperfeitos, mas fascinantes: Romy (Nicole Kidman), uma CEO bem-sucedida, e Samuel (Harris Dickinson), seu estagiário provocador. O resultado é um jogo psicológico entre duas figuras complexas, que culmina em uma narrativa envolvente, ainda que nem sempre confortável.

Nicole Kidman entrega uma performance memorável como Romy, alternando entre vulnerabilidade e uma postura quase predatória. Sua interpretação dá profundidade a uma mulher que vive um dilema interno: de um lado, o peso das responsabilidades como líder e mãe; de outro, desejos reprimidos que encontram vazão em seu relacionamento tórrido com Samuel. Dickinson, por sua vez, traz ambiguidade ao papel do jovem estagiário, cuja autoconfiança beira o manipulador, criando uma tensão constante entre os dois personagens.

O roteiro aborda a sexualidade feminina com honestidade rara no cinema. Diferentemente de produções como Cinquenta Tons de Cinza, que romantizam fantasias, Babygirl mergulha em desejos mais críveis, ainda que incômodos. A relação entre Romy e Samuel não é romântica ou idealizada; é uma troca de poder e exploração de limites. Essa escolha narrativa confere autenticidade à trama, ao mesmo tempo que subverte expectativas de um público acostumado a thrillers de conteúdo mais fantasioso.

Reijn equilibra momentos de tensão emocional com uma direção visual elegante. A ameaça de exposição do caso de Romy com Samuel se torna o fio condutor da narrativa, explorando os riscos que ela enfrenta, tanto na vida profissional quanto na pessoal. A diretora utiliza o “olhar feminino” para trazer nuances ao gênero, oferecendo uma perspectiva que vai além do prazer voyeurístico, comum em produções semelhantes.

A dinâmica familiar de Romy adiciona camadas à história. Antonio Banderas interpreta Jacob, seu marido aparentemente ideal, enquanto Esther McGregor se destaca como Isabel, a filha adolescente que esconde sua fragilidade atrás de uma fachada confiante. As interações familiares, embora secundárias, intensificam o impacto das escolhas de Romy, especialmente quando seu comportamento ameaça desestabilizar aqueles ao seu redor.

Apesar de muitos acertos, o filme não é isento de falhas. Algumas decisões no roteiro, especialmente o final, deixam a desejar. O desfecho parece menos ousado do que o restante da obra, reduzindo o impacto de uma narrativa que se propôs a explorar territórios pouco convencionais. Ainda assim, a jornada até ali é suficientemente instigante para manter o público envolvido.

Babygirl se destaca como um thriller que desafia convenções e traz uma visão renovada para o gênero. Ao explorar a sexualidade e os dilemas morais de sua protagonista sem recorrer a violência explícita, Halina Reijn entrega uma obra instigante e visualmente deslumbrante. Nicole Kidman, mais uma vez, prova ser uma atriz de grande calibre, ancorando um filme que questiona o quanto estamos dispostos a arriscar por nossos desejos mais obscuros.

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