Baghead: A Bruxa dos Mortos

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Habitantes dos cantos escuros dos sujos porões dos bares mais decadentes do mundo, sejam muito bem-vindos a mais uma análise do terror aqui no Quadro por Quadro

Uma jovem no pior momento da sua vida herda um velho pub do seu recém falecido pai com quem a muito tempo havia perdido contato. E o que poderia ser um recomeço se torna uma descida súbita à ruína após descobrir que uma entidade metamorfa sobrenatural habita em seu porão.

Baghead: A Bruxa dos Mortos é uma fantasia de horror baseada no curta-metragem de mesmo nome que rodou o mundo em 2017 colecionando vários prêmios, escrita por Lorcan Reilly e dirigida por Alberto Corredor, que retornam às suas posições para esta nova adaptação, ajudando a manter em alta os lançamentos do terror em 2024.

Iris é uma jovem solitária e perdida que se encontra no ponto mais baixo da sua vida, tendo sido despejada de onde morava, estando sem emprego, contando apenas com o auxílio de sua melhor amiga, Katie, que é um pouco melhor sucedida e encaminhada, e que demonstra muita preocupação e compaixão com ela. Isso até receber uma inesperada ligação que a informa de que seu a muito tempo esquecido pai, Owen Lark, havia falecido, e que por ser a única parente “próxima”, ela deveria viajar até a localidade em que ele morava para que o corpo fosse reconhecido. Tudo corria como deveria até que o advogado de seu pai a aborda na saída do necrotério, informando que havia um espólio que deveria ser tomado conta, uma espécie de herança, um antigo e decadente bar que prontamente ela vai conhecer. Desconfiada do advogado que queria rapidamente transferir a propriedade para outro dono, e curiosa para saber mais sobre o seu pai, assim como o próprio local, Iris pede um tempo para pensar e decidir com calma o que faria com aquilo tudo. No entanto, na mesma noite, enquanto dormia, o pub é invadido por um homem transtornado que se apresenta como Neil, que lhe conta uma história sem pé nem cabeça sobre uma mulher com poderes sobrenaturais que se transforma em pessoas que já morreram, que vive no porão do bar, e buscando convencer Iris, ainda lhe oferece uma boa quantia em dinheiro para poder falar com a entidade. E é nesse momento que a história toma o seu caminho mais perverso.

É um filme conciso, que aborda temas emocionais comuns a todos nós, como o abandono, a solidão, e o luto, assim como também aspectos da psique humana, como a nossa resposta a situações extraordinárias, e características psicológicas pessoais ímpares.

Outros pontos a serem ressaltados dentro do conceito de que na vida todos nós passamos por “altos e baixos”, – também utilizando expressões populares – são “os pecados de nossos pais”, significando que a herança do filme não é somente material, mas, que também contém aspectos intangíveis como emoções, traumas, e erros do passado, além de que “o fruto não cai longe do pé”, demonstrando que apesar de nutrirmos aversão e repulsa a uma figura paterna ou materna, não necessariamente tomaremos ou tomaríamos decisões diferentes se estivessemos no mesmo contexto, e que nessa intenção de nos afastarmos, podemos cometer os mesmos erros, agindo da mesma forma sendo tão iguais ou piores. E a mais sinistra, e ao mesmo tempo realista característica, é que em A Bruxa dos Mortos, a conta finda na máxima de que “aqui se faz, aqui se paga”, ou seja, que para o bem ou para o mal, todas as nossas ações têm consequências.

Seja nos pontos positivos ou negativos, a obra é bastante consistente e honesta, dando o seu melhor a todo momento, e gerando uma experiência interessante para os espectadores que irão experimentar várias emoções e sensações ao longo da exibição.

Os personagens são bastante distintos e se mantém fiéis a seus atributos pessoais, as suas índoles e personalidades, trilhando um caminho bastante crível, não atuando como gostaríamos ou como se é esperado dos clichês de obras similares, e sim como suas bússolas morais e demais características os guiam.

Não tem como dar destaque efetivamente em um único ator, já que todos desempenham bem seus papéis, no entanto, gostei bastante do trabalho da atriz Freya Allan (de The Witcher) como a protagonista Iris, também de Jeremy Irvine que vive Neil, um viúvo atormentado, que esconde muito bem quem realmente é, e por último e não menos importante, Anne Müller que dá “vida” a Baghead, a entidade sobrenatural.

Aliás, o filme que no original se chama Baghead, traduzido livremente como Saco na Cabeça, tem esse nome justamente por conta da entidade que passa a maior parte do tempo com um saco de estopa cobrindo sua identidade.

Para além dos personagens e roteiro bem escritos, e das atuações convincentes, que captam nossa atenção do começo ao fim, as características cinematográficas realmente se destacam, auxiliando profundamente na imersão.

A direção, fotografia, estética, maquiagem, e efeitos práticos, são elementos chave que conduzem o espectador pela experiência do horror pessoal evocado pela decadência, luto, e trauma, assim como também do horror de sobrevivência, trazido pelo confinamento e pelo sobrenatural. A escolha de cenários, jogos de câmera, e takes as vezes pouco ortodoxos, demonstram influências modernas – presentes principalmente em videogames, e para finalizar, não dá pra deixar de pontuar a importância da trilha sonora nesta produção, já que ela nos envolve, potencializando os momentos de tensão, os sustos tomados, os momentos de ação, tudo na medida certa, e sem exageros, tornando a experiência na sala de cinema bastante única.

Assista esse filme nos cinemas.

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