Banel & Adama

Onde assistir
“Banel & Adama”: Uma história delicada que mistura religiosidade com poesia visual

Aqui vão algumas informações rápidas sobre o filme:

  1. Representante do Senegal no Oscar 2023.
  2. Concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes 2023.
  3. Drama com produção compartilhada entre França, Mali e Senegal.
  4. Dirigido pela talentosa Ramata-Toulaye Sy.
  5. Possui efeitos visuais bem executados.

Qual a história de “Banel & Adama”?

Banel e Adama estão apaixonados. O jovem casal vive em uma aldeia remota no norte do Senegal. Para eles, nada mais importa. No entanto, seu amor eterno e perfeito entra em rota de colisão com os costumes da comunidade. Neste mundo não há espaço para a paixão, muito menos para o caos.

Roteiro arrastado ou fatores culturais conflitantes?

O filme é um daqueles exemplos de cinema contemplativo, ou seja, ele possui um ritmo bastante lento. Mesmo com uma fotografia maravilhosa, a trama peca em algumas partes do roteiro.

A direção de Ramata-Toulaye Sy foi carregada de alegorias visuais, o que impressiona pela delicadeza com que tocou temas polêmicos. Mas essas alegorias não salvam o roteiro, que nos parece arrastado. Talvez os maiores obstáculos narrativos estejam ligados a fatores culturais, já que alguns aspectos da trama são bem conectados à cultura islâmica senegalense. A narrativa segue uma lógica interna bem coesa, conectada com aquele universo que pretendeu retratar.

Mas infelizmente, para minha mente brasileira, ele me pareceu monótono. E não é surpresa, já que temas relacionados ao islã são difíceis de se compreender dentro de uma perspectiva ocidental.

Uma releitura de Adão e Eva dentro do contexto senegalês

A personagem de Banel é uma mulher que desafia as tradições do seu povo. Uma pesquisa rápida sobre o que significa Banel, nos traz um resultado de “pessoa que possui muito conhecimento”.

Eva em Gêneses foi seduzida a comer o fruto proibido que oferecia o conhecimento sobre todas as coisas. De fato, Banel parece ser bastante lúcida quanto ao misticismo. Ela não encara as tradições como Adama (Adão, Adam, etc).

E da mesma forma que foi no Gêneses, Banel foi retratada como uma mulher questionadora. E dependendo das interpretações, como uma mulher vil. Sendo ela, talvez, a própria serpente que anuncia as tragédias que se seguem durante o filme.

Não dá pra saber se a ideia de criar Banel foi retratar como seria uma mulher moderna dentro de uma cultura tradicional. Sendo senegalesa, a diretora pode ter tentado mostrar sua visão dentro daquele universo em especifico. Que para uma mulher pode ser bastante limitador.

Vale a pena ver “Banel & Adama”?

Particularmente eu achei o filme bem bonito, tem umas alegorias visuais bem interessantes. A fotografia é espetacular. Mas o roteiro infelizmente é arrastado. Na verdade, ainda não bati o martelo se ele é de fato arrastado ou é minha impressão. Já q sou ocidental e não estou dentro da cultura islâmica senegalesa. O filme tem um viés antropológico. É possível conhecer sobre aquele povo, mesmo a obra sendo classificada como ficção.

Lá pela metade do longa, tem uma parte em que Adama diz que todos os eventos estão interligados. Então, talvez o roteiro arrastado teve o objetivo de mostrar um tempo que não passa, retratando toda a angustia dos personagens.

Apesar desses obstáculos eu devo dizer que foi uma experiência incrível assistir um filme senegalês. A qualidade da obra supera em muito a maioria dos nossos filmes produzidos por aqui. Eu recomendo!

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