É interessante como Corpo Elétrico, filme de estreia do diretor Marcelo Caetano (colaborador do roteiro de Mãe Só Há Uma e diretor de elenco em Aquarius), faz um estudo sobre a heterogeneidade sexual e racial do Brasil através de um pequeno grupo de personagens.
No filme, Elias (Kelner Macêdo) é o jovem desenhista de uma fábrica de confecção de roupas de São Paulo. Ele não mantém contato com a família na Paraíba, e passa seus dias entre o trabalho e os encontros com outros homens. Enquanto reflete sobre as possibilidades de futuro, começa a ficar cada vez mais próximo dos colegas da fábrica, e vê os amigos seguirem caminhos diferentes dos seus.
Pessoas de todo o país, de diferentes idades, raças e orientações, se jogam para São Paulo em busca de crescimento profissional. É aí que entra o tema por trás de Corpo Elétrico. Através do grupo de personagens que trabalham na mesma fábrica que Elias, o filme mostra os horrores associados a pessoas exploradas e mal pagas. A produção destaca a vida das costureiras e operários que só parecem ter tempo para atender às suas necessidades básicas, nada mais.
O filme deixa claro que a situação de Elias é um pouco diferente – ele não pertence a mesma classe social que seus colegas. Elias está mais interessado na moda, nos tecidos e em alguns colegas de trabalho, do que no salário que vem com as horas que passa na fábrica.
As influências dos trabalhos de Caetano com Anna Muylaert (que assina coprodução de Corpo Elétrico), Kleber Mendonça Filho e Gabriel Mascaro (Boi Neon), se fazem presentes de maneira positiva no decorrer da projeção.
Corpo Elétrico vai direto aos pontos que quer tratar. Elias parece encorajar as fugas noturnas de seus colegas e aproveita essas chances para explorar os seus limites e desejos.
Apesar de acreditar que o filme poderia ter um maior desenvolvimento de seus personagens, Corpo Elétrico se beneficia em sua simplicidade intrigante. Ser gay, negro ou branco, para o diretor, parece não ser o importante e aí reside a maravilha do filme, afinal, para a sociedade, isso também não deveria ser uma questão.