Baseado na peça de Jean Anouilh, Becket, o Favorito do Rei transforma uma das maiores disputas da história da Inglaterra em um drama intenso sobre amizade, poder e lealdade. Dirigido por Peter Glenville, o filme acompanha a relação entre o Rei Henrique II (Peter O’Toole) e Thomas Becket (Richard Burton), que começa como uma parceria de excessos e camaradagem, mas se transforma em um embate trágico quando Becket assume o cargo de arcebispo de Canterbury e se dedica completamente à Igreja.
O roteiro equilibra diálogos densos e políticos com momentos de grande carga emocional, destacando a crescente tensão entre os protagonistas. Henrique, acostumado a ter Becket como seu aliado incondicional, se vê traído quando este passa a priorizar seus princípios religiosos. O rei, por sua vez, se mostra cada vez mais frustrado e impulsivo, incapaz de aceitar que sua amizade não está acima das obrigações espirituais do arcebispo.
A força do filme reside na química explosiva entre O’Toole e Burton, dois gigantes do cinema britânico. O’Toole entrega um Henrique II carismático e volátil, oscilando entre afeto e fúria com grande intensidade. Burton, por outro lado, constrói um Becket inicialmente hesitante, mas que cresce em convicção e dignidade à medida que a trama avança. Juntos, eles fazem de cada confronto verbal um duelo de gigantes, sustentando a narrativa com atuações marcantes.
A direção de Glenville evita a rigidez teatral ao explorar ao máximo os cenários grandiosos, desde os salões do castelo real até as imponentes catedrais. A cinematografia destaca os contrastes visuais entre o esplendor da corte e a sobriedade da Igreja, reforçando a oposição central do filme. A trilha sonora e os figurinos também contribuem para a grandiosidade da produção, conferindo autenticidade à recriação histórica.
Embora tenha um ritmo mais cadenciado, Becket, o Favorito do Rei nunca perde o fôlego, pois cada cena avança a complexidade da relação entre os personagens. A trama, que poderia se limitar a uma disputa política, ganha profundidade ao explorar os dilemas internos de Becket e a progressiva deterioração emocional de Henrique. O filme não apenas dramatiza um evento histórico, mas questiona até que ponto poder e amizade podem coexistir quando a fé entra em jogo.
Com diálogos afiados e atuações memoráveis, Becket, o Favorito do Rei é um épico que transcende sua época e permanece como um dos grandes duelos dramáticos do cinema. O desfecho inevitável, por mais trágico que seja, reforça a grandeza de sua narrativa e a força dos personagens, deixando uma marca duradoura no espectador.