Beleza Americana

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"Beleza Americana" não traz nada de novo, mas seus personagens vívidos em situações interessantes fazem a história parecer nova

Ao longo dos anos, muitos filmes lançaram um olhar sombrio no ideal perfeito dos subúrbios americanos. Para muitos, a vida suburbana se resume ao sonho americano. Para outros, porém, pode transformar-se num pesadelo distorcido de desejos não realizados, necessidades reprimidas e esperanças destruídas.

Devido à necessidade de manter as aparências, uma fachada serena muitas vezes esconde um terreno fértil para o disfuncional, a ansiedade e a hipocrisia. “Beleza Americana” não é tão sombrio quanto um trabalho de David Lynch, pois permite pequenos momentos de redenção, mas explora o mesmo território que alguns dos trabalhos do diretor.

No filme, Lester Burham (Kevin Spacey) não aguenta mais o emprego e se sente impotente perante sua vida. Casado com Carolyn (Annette Bening) e pai da “aborrecente” Jane (Tora Birch), o melhor momento de seu dia é quando se masturba no chuveiro. Até que conhece Angela Hayes (Mena Suvari), amiga de Jane. Encantado com sua beleza e disposto a dar a volta por cima, Lester pede demissão e começa a reconstruir sua vida, com a ajuda de seu vizinho Ricky (Wes Bentley).

O filme é sobre a maneira como esses personagens crescem e os catalisadores que os libertam de suas existências catatônicas. É também sobre a paralisia emocional que acompanha a segurança. Refugiamo-nos na rotina e, depois de alguns anos, a ideia de mudança torna-se assustadora. A felicidade, o objetivo da juventude, é substituída pelo desejo do conforto artificial que surge através da mesmice entorpecente da repetição. Casamentos sem amor, como o de Lester e Carolyn, existem porque nenhum dos parceiros possui a disposição de quebrar o ciclo. E as crianças que eles pensam que estão protegendo ao permanecerem juntos são muitas vezes as maiores vítimas da sua farsa.

É o primeiro longa-metragem dirigido por Sam Mendes, mas o cineasta já demonstra uma segurança que muitos cineastas não conseguem igualar. O filme une drama com comédia ácida. É uma história sobre personagens, e os três protagonistas são desenvolvidos com tanta habilidade que somos atraídos por eles durante toda a duração do filme. Spacey, Bening e Birch oferecem performances dignas de premiações.

Se há um ponto fraco, está na forma como a história é estruturada. A narração em off de Spacey mata grande parte da tensão narrativa quando, durante a cena de abertura, ele revela o final do filme. Esta abordagem seria perdoável se houvesse uma razão dramática convincente, mas esse não é o caso aqui. Na verdade, o uso da narração faz com que o filme tenha mais momentos expositivos do que o necessário.

“Beleza Americana” não traz nada de novo, mas seus personagens vívidos em situações interessantes fazem a história parecer nova. Em parte porque não é totalmente deprimente e em parte porque não engana o público. É um filme emocionalmente satisfatório. Há uma sensação de angústia no final, mas também a sensação de que estivemos em uma viagem incrível pelas vidas e almas de três personagens cujas vidas nos interessaram verdadeiramente ao longo das duas horas de projeção.

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