Brado é a excitante experiência de assistir por 1h50 um comercial da Marlboro nos anos 1990. Tem cavalos, cigarros, homens másculos e bonitos.
E bota homens bonitos, viu!? E não só eles, as mulheres também são lindas. A impressão que dá é que quase todos os personagens parecem ter sido escolhidos a dedo para despertar um “je ne sais quois” sensual no espectador. Enquadramentos com iluminação de motel (luz baixa) e angulações bem pensadas trazem à tona uma sexualidade inocente, mas ao mesmo tempo provocativa. Sem falar nos elementos chaves que colocaram no filme: uma(s) cadela(s) que SEMPRE está prenha e pare filhotes que nem uma máquina ano após ano, um cavalo negro viril e indomável, homens de bem fazendo comentários misóginos, e uma ereção inoportuna (quem nunca ficou de pa* d*ro andando a cavalo, não é mesmo? Eu nunca, mas não sou uma boa referência).
Vale pontuar que sendo um homem gay eu achei tudo uma delícia. Até porque não precisa de muita coisa para chamar minha atenção. Mas eis que coloquei a mão na consciência. E ela pesou!
É MAIS UM FILME SOBRE CAVALO?
Sim! Aqui vai a sinopse: Após o pai domador de cavalos sofrer um acidente de tralhado, o jovem e sensível Tom (Saul Nanni, que apelidei de príncipe de olhos azuis) retorna para o rancho onde passou a infância. Os dois não possuem uma boa relação, muito por culpa de Renato (Kim Rossi Stuart, que no Brasil ia votar 17), um “cowboy raiz” bruto e sem modos. Tom, ao ver a situação debilitante do pai, decide ficar algumas semanas para ajudá-lo a domar um cavalo quase indomável (uma representação da relação difícil entre os dois). Com o passar dos dias os problemas do passado ressurgem, e com eles uma nova possibilidade de resgatar laços que pareciam estar perdidos.
UMA LINDA HISTÓRIA FAMILIAR. ENTÃO POR QUE MINHA CONSCIÊNCIA PESOU?
Bom, vamos lá! Se você for uma mulher, não ficará nem um pouco confortável assistindo esse filme. Entretanto, se for de família tradicional e defensora dos bons costumes, então é provável que seja apenas um retrato do seu dia a dia. Isso porque o filme é bem MACHISTA. Tem gente que gosta né. FETICHE!
Nem o desenvolvimento dos personagens mostrando uma certa sensibilidade consegue disfarçar os 10 litros de testosterona que vazaram na história. Tem mulher que vai voltar com a voz grossa quando sair do cinema.
Para ser sincero eu me pergunto onde que as pessoas estavam na cabeça de fazer um filme assim. Pra vocês terem ideia, em determinado momento uma égua aparece na cozinha e o pai, o bruto Renato de peito peludo, diz algo como “até que enfim uma mulher digna em nossa mesa”. GENTE! UMA ÉGUA!
E o que dizer da pobre da cadela que vive prenha por anos e anos e tem seus filhotes mortos pelo dono? RENATO, EU SEI QUE VOCÊ É BRUTO E SISTEMÁTICO, MAS VOCÊ NUNCA OUVIU FALAR EM CASTRAÇÃO AÍ NO RANCHO?
Se nem uma égua e uma cadela te incomodam, o que dizer dos personagens principais, Tom e Renato, que sofreram por mulheres com pouco caráter?
MALDITAS MULHERES QUE BRINCAM COM ESSES CORAÇÕES PELUDOS E MASCULINOS! Não vou mentir que nessa parte do peludo eu achei maravilhoso.
A cereja do bolo sabor Lei Maria da Penha vem quando Tom encontra seu novo par romântico, uma jovem com postura independente. E sabe qual foi o primeiro comentário que ouvimos dele? “ELA É MUITO MASCULINA”. Nessa parte eu quis morrer, e eu nem sou mulher (mesmo que algumas pessoas possam pensar que eu desejo ser uma só por ser gay).
ALERTA DE SPOILER: “CONTÉM EREÇÃO DE HOMEM BONITO E GOSTOSO COM OLHO AZUL”
No filme, Tom e a jovem masculina estão cavalgando juntinhos em um mesmo cavalo. Tom abraçando por trás. Em determinado momento ele arma a barraca, e a jovem masculina ri, debochando do nosso príncipe de olho azul. Tom fica ressentido por ela ter zombado. (Eu no lugar dela não sei o que faria, mas com certeza eu não zombaria. Risos.) Mas como não é um filme gay, vamos seguir. Minutos depois a jovem tenta conversar com o cabisbaixo Tom (que um tempinho atrás não tinha nada de cabisbaixo. Risos novamente), enquanto vira de costas e tira sua blusa, mostrando o sutiã. Não deu 5 segundos e Tom a agarra! Nas redes sociais as pessoas dizem que abuso é quando o homem é feio. No filme ela gostou, é porque ele é bonito? Então se ela gostou não tem problema, né? (CONTÉM IRONIA). Ah! Mas também ela provocou tirando a blusa na frente dele. Ela pediu para ser agarrada. (CONTÉM MAIS IRONIA).
MESMO PARECENDO UM COMERCIAL DE CIGARRO E WHISKY DOS ANOS 1990 EU ACHEI INTERESSANTE!
Como não sou de família tradicional então não serei hipócrita. Eu poderia dizer para vocês que eu não gostei do filme, sendo que por dentro eu adorei ver aqueles homens lindos cavalgando com toda aquela masculinidade machucada por mulheres oportunistas.
O filme traz emoção com o desenvolvimento dos personagens? TRAZ! Mas é uma emoção tão barata quanto um maço de Marlboro. Mas se tem tanta gente que gosta de fumar cigarro mesmo ele sendo ruim, imagina o prazer que vão ter assistindo Brado.
Dos que vão gostar, alguns podem dizer “que benção, tem filho honrando pai”. Uma história aprovada por 30% da população brasileira.