Capitão Fantástico

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"Capitão Fantástico" é uma experiência transformadora

Se já não houvesse um filme chamado O Melhor Pai do Mundo, o slogan de presente do Dias dos Pais seria um bom título para Capitão Fantástico.

Viggo Mortensen (o Aragorn de O Senhor dos Anéis) interpreta Ben, um dos pais mais progressistas já retratados em tela – sobrevivente de um casal que vai contracultura e decide ignorar o capitalismo (ele ignora o Natal, mas comemora o “Dia Noam Chomsky”, por exemplo).

A família deixa a cidade grande para viver fora da rede, mas quando Leslie, a mãe da família, comete suicídio, durante um tratamento de depressão, há uma reviravolta no conto de fadas, onde começa o drama familiar dirigido por Matt Ross (que atuou em O Aviador). Ele pondera os prós e os contras da estratégia parental não convencional da família, enquanto Ben, o pai aflito, e seus filhos precisam se reintegrar aos poucos à sociedade “normal”.

Ben cortou esses laços que unem a sua família com o restante do mundo – tanto que só fica sabendo da morte de sua esposa quando resolve achar uma linha telefônica para se certificar como está seu tratamento.

Os filhos impressionam em sua performance ao lado de Mortensen, que aproveita ao máximo o espírito de Na Natureza Selvagem que o personagem se impõe, e assim ele mostra um estilo de vida autossuficiente que fará boa parte do grande público se sentir alheio à situação, mas ao mesmo tempo instigando a nos perguntar “como seria” viver uma vida como a dos personagens.

Já na abertura do filme, Ben organiza uma cerimônia de caça que serve como rito de passagem para seu filho mais velho, Bodevan (George MacKay, de Orgulho e Esperança). O ritual é quase como um culto mostrando que as famílias são como uma espécie de pequenas seitas forçadas a operar dentro de um contexto social pré-definido mais amplo.

Após dar a notícia da morte de Leslie aos filhos (em uma bela cena, inclusive), eles acabam decidindo que precisam viajar para o funeral da mãe e é aí que todo o conflito se desenrola. Se por um lado Ben criou seus filhos para serem jovens adultos respeitosos e brilhantes dentro do seu estilo de vida, por outro é culpado por privá-los de interagir com outras pessoas, dificultando suas relações com aquelas que cruzam o seu caminho ao saírem da floresta onde viviam.

O contraponto principal ao estilo de vida de Ben é o pai de Leslie, Jack (muito bem interpretado por Frank Langella, de Frost/Nixon). Sua maneira dominadora em relação ao estilo de vida que ele acredita que seus netos devem levar acaba por sobrepujar o que pensa sua esposa compreensiva. Além de querer o melhor para seus netos, dentro da sua visão limitada de mundo, ele ainda quer dar um funeral que julga adequado para a filha, mesmo que isso signifique ignorar os últimos desejos dela.

O filme deve se conectar principalmente com quem busca uma experiência humana tão fundamental e simples, mas ao mesmo tempo transformadora. Ross respeita as emoções de todos os personagens e do público ao longo da projeção, mesmo que isso signifique arriscar que Capitão Fantástico seja zombado por aqueles muito impregnados dentro do capitalismo selvagem.

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