Desalma – 1ª Temporada

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Série sobrenatural da Globoplay com Cássia Kiss é inovadora dentre as produções nacionais e uma grata surpresa

O Brasil tem um forte poder cinematográfico que ao longo dos anos tem ganhado mais espaço, principalmente nos serviços de streaming. Fora da tv aberta, as histórias de formatos mais ousados ganham sua oportunidade de mostrar que existe um público sedento por boas histórias brasileiras e que, além disso, está disposto e aberto a novidades. A Globoplay, assim como a Netflix e Prime Video, enxergou esse mercado alternativo, só que diferente das gringas, ela já é referência nos folhetins e detém o status de maior casa dramatúrgica do país, que dá a ela a possibilidade de expandir seu portfólio e criar conteúdos originais de alta qualidade.

Desalma, a nova série original Globoplay escrita por Ana Paula Maia, conta uma história de horror com bruxaria e cinematografia impecável. Na trama, a tradicional festa pagã na cidade de Brígida, é banida após uma tragédia que contou com a morte de uma adolescente, filha da bruxa Haia (Cássia Kiss). Os acontecimentos do passado voltam a assombrar a cidade e os personagens que viveram a tragédia. Mesmo sabendo que o Brasil é um país que recebeu imigrantes do mundo todo e suas regionalizações são bem características, é difícil imaginar um país culturalmente tão rico e com tantas histórias, cantigas e contos folclóricos sendo retratado como uma colônia ucraniana. Soa até afrontoso. Claro, que a liberdade de texto está aí para todos e de fato, o roteiro de Desalma é bem construído, mesmo com todas as suas referências escancaradas de séries gringas como a excelente The Third Day da HBO e Luna Nera da Netflix, entre outras. Porém, fica essa questão martelando na cabeça durante toda a série.

Os pontos de fuga de toda essa busca por mais Brasil e menos Europa adormecem quando Cássia Kiss entra em cena e toma conta de tudo. Sempre muito precisa, a atuação afiada da veterana sustenta o clima de suspense e todo o mistério por volta de sua personagem mística com a maestria de sempre. Os rituais macabros, os sussurros em russo de Haia e as almas que transitam pela cidade merecem destaque também por sua construção, que flerta com muitas referências, mas não são gratuitas, desencadeando novas possibilidades para a trama. Junto de Cássia, Cláudia Abreu retorna as telas com uma personagem importante, que faz lembrar sua trajetória nas novelas, mas acrescenta sua experiência cinematográfica para projetar um trabalho intenso e natural num núcleo de traumas e amadurecimento. Maria Ribeiro, por sua vez, ficou com uma personagem difícil, que pouco acrescenta na trama, mas rende bons momentos.

Após o estranhamento e desconforto do começo, a série também peca num português tão correto que parece que os atores coadjuvantes e, principalmente os mais jovens, estão lendo as falas. Esse detalhe dispersa a construção das sequências que demoram para retomar o ritmo quando o roteiro decide expandir sua visão e relevar mais elementos de horror pelo caminho. Mesmo assim, as cenas são grandiosas, as locações fazem um show à parte e mostra um Brasil bucólico, de florestas fechadas, colinas e cachoeiras talvez nunca visto antes numa produção nacional. É certo também dizer que, a ousadia tem seu preço e o saldo acaba superando as expectativas, mesmo com os deslizes. Desalma entrega um entretenimento inovador e um olhar diferente sobre o potencial do audiovisual de horror brasileiro.

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