Do Pó da Terra

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"Do Pó da Terra" emociona com um tema tão singular e através de belas imagens

Os traços da cultura brasileira, mais propriamente negra e indígena estão espalhados pelos cantos menos notórios do nosso país. A mesorregião do Vale do Jequitinhonha é uma delas. Ao norte do estado de Minas Gerais, o Jequitinhonha agrupa 5 microrregiões com um total de 51 municípios. A região deprimida, como foi apelidada, é uma das mais pobres, com elevados índices de todos os problemas sociais e econômicos que se pode ter. Com a desnutrição, mortalidade, analfabetismo e falta de infra-estrutura, a região sofre com o constante êxodo rural para os grandes centros como São Paulo, onde há emprego e uma suposta melhora na condição de vida.

O documentário Do Pó da Terra dirigido por Maurício Nahas, escolhe esse pedaço do Brasil para contar uma história sobre tudo que envolve a terra e como ela é parte fundamental na sobrevivência desse povo que luta constantemente para elevar o nome de seu lugar e defender os títulos depreciativos muitas vezes exagerados sobre o Jequitinhonha.

Acompanhamos histórias distintas de mulheres que tomam a frente do sustento da casa e dos filhos enquanto os maridos de algumas estão no corte de cana-de-açúcar ou trabalhando no ramo da construção no estado vizinho. Nas mãos fortes de muito trabalho e uma rotina cansativa dos personagens, o olhar da produção para os detalhes na construção das informações e da linha do tempo no processo entre a terra bruta e o trabalho final, é delicado e firme no sentido de não perder o foco entre a emoção e a crítica política.

O barro é o personagem principal. Desde a sua introdução como herança cultural dos índios e o costume dos meninos se cobrirem desse pó num ritual de brincadeira, até na produção de artesanato de barro queimado para ser vendido em feiras de beira de estrada ou pequenas lojas nos centrinhos comerciais mais próximos. Quando a gente se vê muito imerso na tecnologia e na extinção de costumes e desvalorização do trabalho manual é quando o filme se torna ainda mais importante. Em que prega um alerta para o que realmente importa e como as oportunidades podem mudar a vida de alguém.

Entrando em temas muito pessoais dos moradores entrevistados, Do Pó da Terra consegue extrair grandes histórias de superação e também de riqueza histórica que pertence a nós. Olhando para essa população artesã que vive da arte do barro para criar os filhos, o filme não pesa só nos problemas e dificuldades, mas também no sonho, na saudade, na satisfação por criar arte e ser reconhecido.

As atividades de mineração, carvoaria e queimada, vem destruindo o solo rico dessa região que possui patrimônios históricos, culturais e naturais muito vastos e merecem um olhar mais atento de autoridades e mesmo do próprio povo. Com essa responsabilidade, Do Pó da Terra emociona com um tema tão singular e através de belas imagens e depoimentos consegue montar um filme completo, informativo e com extrema relevância para a nossa realidade.

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